A acreditar no que vai correndo - e que parece real - lá para quarta-feira, o mais tardar, o Governo cairá.
No dia seguinte, para negociar com os parceiros europeus estará um Sócrates de mãos vazias e com cara de impotência. É uma daquelas situações em que todos gostaríamos de ser moscas para estar por dentro da História e sabermos o que lhe dirão a ele e o que ele dirá aos outros chefes políticos.
Caído o Governo, vamos para eleições. Se ao menos pudéssemos ter a certeza de que dali sairá uma maioria forte para nos conduzir no futuro... Mas, do que se recolhe em conversas privadas com personalidades de partidos do arco do poder, é que tudo ficará essencialmente na mesma, à mercê de acordos que o presidente não tem querido promover e que os partidos, eles próprios, não têm conseguido montar. Ouseja: teremos de resolver depois o que não conseguimos resolver agora. Só que estaremos mais pobres e mais endividados.
Os partidos, todos eles, mais a inabilidade do senhor presidente da República trouxeram-nos até aqui. Parece impossível que tanta gente acredite que só com um Governo forte poderemos combater a crise e ninguém consiga ultrapassar os problemas "lá de casa" para dar um passo que assegure a estabilidade. Nem mesmo o presidente da República. Os partidos todos, mais a inabilidade do senhor presidente da República significa, em linhas gerais, a classe política que nasceu com o 25 de Abril. Estamos, seguramente, numa crise de regime e chegamos aqui graças ao tacitismo de políticos e de partidos, a que podemos também juntar os interesses de uns quantos empresários que só sabem viver debaixo do chapéu-de-chuva do Estado.
Precisamos de outra gente e de outros métodos. E depressa. Os jovens manifestaram-se há uma semana, fundamentalmente contra isto mesmo. Ontem, a Avenida da Liberdade voltou a encher-se.
Não acreditando que das próximas eleições possa sair uma maioria ou uma vitória dos dois partidos que sempre estão contra tudo, o desejável é esperar que os restantes tomem o seu banho de humildade. E desejar também que seja mentira que já haja, como se diz, com nomes e tudo, quem esteja pronto para ocupar os pequenos poderes que o PS terá de largar. Espera-se, enfim, que as coisas mudem, sem que isso signifique tirar os que lá estão para pôr outros iguais.
Mas, tratando-se de nós, portugueses, tudo pode ficar na mesma. Como ontem escrevia, no "Expresso", Miguel Sousa Tavares, "dentro de cinco anos, dez no máximo, o Japão estará reconstruído de toda esta devastação que o destino lhe reservou. Mas nós estaremos na mesma ou pior". Infelizmente, a História está cheia de exemplos assim. Somos incorrigíveis.
José Leite Pereira, aqui