Quando as nossas escolas pareciam recuperar a serenidade, novas medidas anunciadas pelo Governo espalham de novo a confusão, espevitam o conflito. Não será possível aplicar uma reforma até ao fim no Ensino em Portugal?
Em causa, agora, as aulas de 90 minutos que tanta controvérsia geraram quando o Ministério da Educação, liderado por Maria de Lurdes Rodrigues, implementou o novo sistema. Os tempos lectivos passavam de 45 para 90 minutos. Caía o Carmo e a Trindade.
Especialistas e afins garantiam: as criancinhas não aguentariam estar sentadas, atentas e concentradas durante uma hora e meia. Afinal, venceram essa tortura.
Quando a coisa parecia consolidada, há que mudar e voltar ao princípio. Com uma nuance. O Ministério faz jus à autonomia das escolas e pede-lhes para decidir. Os meninos voltam, portanto, a ter aulas de 45 minutos - daquelas que mal começam já se ouve o toque de saída.
Não ficou o Ministério da Educação satisfeito com os resultados do PISA (programa que avalia a competência científica dos alunos)? Ficou, tanto que fez um enorme exercício de propaganda. O aproveitamento dos alunos de 15 anos a Português, Leitura e Ciências punha Portugal pela primeira vez a entrar na média da OCDE.
O primeiro-ministro, sem hesitar um segundo, colava os resultados do PISA às políticas educativas do seu Governo. E agora: como explica a reforma? Vai desfazer o que conduziu aos bons resultados. Porque a medida não se limita ao fim das aulas de 90 minutos. É mais vasta. Os alunos do 2.º e 3.º ciclos deixam de ter Área de Projecto, uma disciplina que visava ajudá-los a criar métodos de trabalho, e o Estudo Acompanhado fica limitado a crianças com dificuldades a Português e a Matemática. Ou seja: servirá para diminuir os chumbos nos alunos menos preparados, os outros não terão ninguém que os apoie para serem melhores. Da Escola Pública, tão discutida nos nossos dias, espera-se - além do combate à mediocridade - a excelência.
José Sócrates bem pode vir com discursos optimistas sobre a situação do Ensino. No entanto, a nova reforma curricular, mais do que a qualidade da formação dos jovens, tem em vista a qualidade das contas públicas.
Paula Ferreira, aqui