Chamo-me Telmo Domingues. Bustoense, nascido e criado. Quarenta e três anos, vinte e oito dos quais ligado diariamente ao IPSB: nove como aluno, dezanove como professor.
Sou das pessoas menos indicadas para defender, com objectividade e imparcialidade, o nosso Colégio Frei Gil. Neste contexto, e a esta escala global, na internet, o impacto da minha opinião é nulo.
Além disso - pode legitimamente argumentar-se - há a hipótese de eu estar a forjar uma opinião com objectivo de satisfazer os meus interesses pessoais: é o meu emprego que está na linha de fogo (ainda que seja um dos dois professores de Biologia e Geologia mais antigos da casa...) e aos olhos de quem não me conhece, esta poderá ser não mais que uma manobra de diversão... Ainda assim, com a objectividade abalada pelo amor à casa, a insignificância como companheira e com a minha credibilidade em prova, penso ter um contributo válido a dar.
O Colégio Frei Gil é uma escola particular com contrato de associação, instalada na nossa comunidade há mais de 40 anos por iniciativa do padre Dominicano Frei Gil – o “nosso” Frei Gil. Desde a sua fundação e até hoje, o projecto de Frei Gil sempre foi respeitado e acarinhado – é uma escola do Povo, para o Povo.
O Instituto de Promoção Social de Bustos (actual designação do Colégio Frei Gil), como o seu nome claramente sugere, pretende ser – e é - isso mesmo: um instrumento de promoção das gentes da nossa terra. Os milhares de pessoas que por nós passaram ao longo de várias gerações são o testemunho vivo da nossa cultura de diversidade, do nosso investimento em Valores, tanto quanto em competências e conhecimento. Todas as pessoas, desde as mais humildes às mais abastadas, foram e são recebidas com a mesma alegria e intenção - nunca fomos, nem nunca seremos, uma escola para meninos ricos, muito antes pelo contrário!
Somos, com todas as letras, uma instituição de verdadeiro serviço público, reconhecida e acarinhada por toda a comunidade regional. Problemas? Claro que os há! Não consigo evitar uma grande azia quando, por exemplo, penso na quase indiferença que a escola dispensa ao milagre que nos puseram ali ao lado, na Mamarrosa, que dá pelo nome de IEC... Não consigo digerir a falta de oferta educativa de uma escola como a nossa à comunidade de adultos... Não suporto a presença de pessoas que ainda não perceberam que Escola e Educação são conceitos dinâmicos... Rejeito compulsivamente a inércia instalada em alguns sectores...
No contexto actual, o que está em causa é muito mais preocupante que o fantasma do desemprego de alguns professores e funcionários. O que está em causa é a continuidade de um projecto sobejamente conhecido pela sua abrangência social e, ainda assim, pela qualidade comprovada da Educação prestada.
Como já se disse, inclusivamente na Assembleia da República, é preciso distinguir o trigo do joio, antes que seja tarde demais. As iniciativas dos Encarregados de Educação têm sido absolutamente louváveis e motivantes, contribuindo positivamente para essa distinção. Ao contrário do que alguns pensam ou pensaram, os professores não ficaram indiferentes ao apoio à escola, na manifestação organizada pela APECOB. Os professores tiveram que cumprir com o que a lei determina – estar no seu local de trabalho para prestar um serviço educativo. As inspecções a que as escolas estão a ser sujeitas por causa da interrupção das aulas, atestam que agimos bem ao “distanciarmo-nos” do manifesto.
Mas, como diz o Óscar Santos, as manifestações de rua não chegam. Tem de haver um movimento em bloco de todos os que se identificam com a nossa escola divulgando, em todas as frentes, o nosso Projecto Educativo. Temos de nos demarcar dessa horda de oportunistas que, efectivamente, usam e abusam dos nossos impostos para proveito próprio. Sem histerias nem fanatismos é importante, neste momento, saber ouvir as pessoas que não nos conhecem. Ouvir as suas críticas, por muito injustas ou inadequadas que sejam e, com serenidade, mostrar-lhes quem somos e o que representamos, o caminho que traçámos e as directrizes que abraçamos. É muito importante, agora, que todos os nossos ex-alunos, principalmente eles, levem a sua voz até onde puderem, para que o maior número possível de pessoas perceba que somos, de facto, uma escola diferente daquilo em que nos querem tornar. Mas façamo-lo de forma livre e genuína, como sempre ensinámos, como sempre aprendemos."
Agradeço-vos o esclarecimento que tem sido prestado, porque é disso mesmo que se trata - esclarecer as pessoas.
Abraço
Telmo
Telmo Domingues, aqui
