terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O GOVERNANTE APRESSADO

O pior do desemprego "já passou" (sic).

A que soa esta frase? Depende: parecerá um alívio a todos os que temem ficar sem trabalho; e soará estranha, para dizer o menos, a todos os que vivem sem emprego há pouco, algum ou muito tempo.

A frase tem autor: Válter Lemos, secretário de Estado do Emprego. A boa nova foi proferida pelo governante após o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) ter feito saber que, entre Janeiro e Dezembro de 2010, o número de pessoas inscritas nos centros de emprego recuou em cerca de 20 mil.

Infelizmente, há outro ângulo de visão: quando comparado com Dezembro de 2009, o número de desempregados cresceu 3,3%. Contas feitas, há, hoje, 541 mil portugueses sem trabalho.

De modo que, a mim, a frase "o pior do desemprego já passou" soa mal - soa a Pinho (a Manuel Pinho, bem entendido), o ministro que, um dia, se atreveu a decretar, apressadamente mas com bonomia q. b., o fim da crise.

E soa mal porquê? Soa mal porque dizer, como Válter Lemos disse sem pestanejar, que " a boa notícia é termos em Dezembro menos 20 mil desempregados do que em Janeiro" é apenas estatística torcida e retorcida. Válter Lemos sabe que a taxa de desemprego de 2010 vai ficar bem acima daquilo que o Governo previra (há não muito tempo, a ministra da tutela admitiu mesmo que a taxa ficaria abaixo dos 10%...).

Válter Lemos também sabe que, com a taxa de crescimento prevista para o próximo ano, o desemprego dificilmente dará sinais de abrandamento. E Válter Lemos sabe ainda que, porventura pior do que tudo isso, é crescente - e aparentemente imparável - o número de pessoas que está na variável "desemprego de longa duração" (sem trabalho há mais de um ano).

Lê-se na análise do IEFP: quanto ao tempo de permanência dos desempregados nos ficheiros, os inscritos há menos de um ano (58,2 por cento do total de desempregados) diminuíram 8,1 por cento, enquanto que os desempregados de longa duração (41,8 por cento do total) aumentaram 25%. Isso mesmo: 25%!

Trata-se de pessoas que dificilmente voltarão ao mercado de trabalho, pessoas para as quais a economia e o Governo não encontram solução, pessoas que, mais dia menos dia, perdem o direito ao subsídio de desemprego e rapidamente entrarão na lista que reflecte a pobreza...

Na ânsia de mostrar trabalho, o secretário de Estado do Emprego foi, parece-me, apressado na análise e desastrado no discurso. O tema do desemprego é demasiado sério para um governante se dar a luxos destes.

Paulo Ferreira, aqui