Mais desemprego, impostos, juros e inflação e menos salários, subsídios e crédito: é este o cenário traçado pelo Banco de Portugal às famílias, antecipando uma recessão.
Admite, ainda, novas medidas de contenção. Hoje, o país volta a pedir dinheiro aos mercados internacionais.
O grau de sucesso da emissão de dívida pública ajudará a perceber a probabilidade de o Governo vir a tomar novas medidas de redução do défice público - hipótese admitida pelo Banco de Portugal (BdP), nas previsões de Inverno ontem divulgadas.
Mas os cortes já em vigor só por si são suficientes para que o banco preveja que este ano a riqueza nacional caia 1,3% e, no próximo, cresça 0,6%.
Para já, na linha da frente da crise estão as famílias, cujo rendimento disponível baixará 2,4%, prevê o banco governado por Carlos Costa. A pioria do nível de vida será consequência de dois tipos de factor. Por um lado, deverão desaparecer quase 60 mil postos de trabalho, ditando um "forte aumento do desemprego", até 2012. Perante um mercado de trabalho difícil e o corte médio de 5% dos salários na Função Pública, também os valores a negociar entre patrões e sindicatos, na iniciativa privada deverão ter uma "evolução moderada". Todas as pensões de reforma, por seu turno, estão congeladas.
As famílias terão também menos apoios sociais, comparando com os dois últimos anos, em virtude dos cortes no subsídio de desemprego, abono de família ou rendimento social de inserção, por exemplo.
Mais despesa e menos consumo
Se os rendimentos vão baixar, ou crescer pouco, já as despesas continuarão a subir, diz o BdP. Impostos, inflação e taxas de juro (em concreto a Euribor, a que está indexada a maioria dos créditos à habitação) deverão subir.
O recurso ao crédito não deverá ser solução: a braços com dificuldades de financiamento externo e perante a reduzida poupança das famílias e das empresas portuguesas, a Banca deverá apertar ainda mais a concessão de empréstimos. Em consequência, as famílias vão consumir menos, ajudando a balança comercial (importa-se menos), mas prejudicando as empresas dos chamados bens não transaccionáveis, que não podem ser vendidos nos mercados externos e que vivem do consumo dos portugueses (um café ou uma barbearia).
Tanto estas quanto as empresas exportadoras serão também atingidas pelo aperto no crédito, mas quem vende para fora poderá contar com um ano positivo: o BdP prevê que as exportações continuem a crescer, embora a ritmo mais lento do que em 2010.
Menos dívida para poder crescer
A subida das exportações e diminuição das importações, a redução do consumo do Estado e das famílias e a forte quebra no investimento das empresas baixarão o endividamento externo - razão pela qual o país tem estado sob pressão dos mercados internacionais e em risco de accionar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e FMI.
Alexandra Figueira, aqui