Infantários ou “infectários”? O trocadilho banalizou-se entre pais e médicos, para rir ou para desdramatizar uma realidade inevitável: a de que as crianças que frequentam creches e infantários estão mais expostas ao contágio por doenças infecciosas.
Mas agora uma investigação científica canadiana vem dizer que apesar do medo que os pais sentem por causa dos contágios, o melhor é mesmo mandar as crianças para as creches até aos dois anos e meio, não só por causa da socialização, mas também para que o sistema imunitário se fortaleça.
Segundo a pesquisa de uma equipa do Hospital Ste-Justine e da Universidade de Montreal, no Quebec, Canadá, os bebés que entram para a creche até aos dois anos e meio sofrem de mais infecções do que os que ficam em casa, mas a incidência destas doenças é menor quando são mais velhos e frequentam já o primeiro ciclo.
As conclusões, publicadas esta semana no Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine, dão conta do acompanhamento de crianças entre os zero e os oito anos, nas quais foi estudada a ligação entre a frequência da creche ou infantário e três tipos de infecções (respiratórias, do ouvido e gastrointestinais), desde o pré-escolar ao primeiro ciclo.
No total, foram estudadas 1238 famílias canadianas que tiveram filhos em 1998. As crianças foram seguidas dos cinco meses aos oito anos e durante este período as mães comunicaram sempre que os filhos estiveram doentes com infecções respiratórias, de ouvido e gastrointestinais.
Os bebés que até aos dois anos e meio foram para creches tiveram maior taxa de infecções respiratórias e de ouvido no início da escola, em comparação com as crianças que ficaram em casa até à pré-escola. No entanto, no final desta etapa as probabilidades de ficarem doentes foram iguais nos dois grupos.
“O risco dos pequenos que crescem numa creche adoecerem do ouvido ou de gripe é menor quando entram para a escola primária do que nas crianças que estiveram em casa”, concluem os autores que sublinham não ter constatado haver risco acrescido de infecções intestinais nas escolas, em nenhum dos períodos analisados.
Mais, dizem os cientistas que a protecção posterior contra doenças infecciosas que as crianças das creches e infantários parecem desenvolver, só se encontra em miúdos que frequentam escolas de maior dimensão (até 10 turmas, com 12 meninos cada) e não nos estabelecimentos que têm menos alunos.
"Os resultados estão em linha com outros ensaios anteriores que constataram um maior risco de infecções na etapa pré-escolar das crianças que não se educam em casa, mas uma maior protecção contra as constipações, os sintomas de asma e as patologias atópicas nos anos posteriores", adianta a investigação. As crianças que entram para as creches depois dos dois anos e meio não têm protecção contra infecções e correm maior risco de sofrer de otites, sublinha, ainda, a pesquisa canadiana.
A investigação acrescenta argumentos atenuantes para os pais que se mortificam pela falta de alternativa à creche e ao infantário. "Estas conclusões são tranquilizadoras para os pais que optam por levar os filhos à escola infantil, já que a sua inscrição precoce não tem efeitos na saúde posterior da criança, pelo menos no que se refere às infecções de ouvido, respiratórias ou gastrointestinais", adiantam os cientistas de Montreal. Pelo contrário: "podem obter uma protecção contra estas patologias durante os anos escolares em que o absentismo por doença tem consequências mais importantes na adaptação e no rendimento escolar".
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