terça-feira, 21 de dezembro de 2010

ARISTÓTELES ERA BIPOLAR E ALEXANDRE MAGNO ALCOÓLICO


O primeiro romance de Annabel Lyon conta o outro lado da história que uniu o filósofo grego e o futuro rei da Macedónia. Demorou sete anos e meio a concluir, mas já inspirou uma sequela.

Em 2004, o actor Colin Farrell armou-se até aos dentes para encarnar Alexandre III, o Grande ou Magno, que subiu ao trono da Macedónia 356 anos antes do nascimento de Cristo.
 
A história assinada por Oliver Stone retratava a faceta guerreira do mais célebre conquistador da Antiguidade. Mas para além das suas batalhas, pouco se conhecia da vida do pupilo de Aristóteles.

O filme correu o mundo, mas Annabel Lyon, filósofa e escritora canadiana, "nunca o viu". Nem foi preciso. Ao longo dos últimos sete anos e meio entrou a fundo na relação entre Aristóteles e Alexandre, para contar "a outra versão da história". "The Golden Mean" (título original) ou "Aristóteles e Alexandre", em Portugal, remete para a base filosófica de Aristóteles. "Ele acreditava que a vida se devia reger pela procura do meio-termo entre os extremos".

Na verdade, explicou Annabel ao i, "a ideia do livro foi mostrar o outro lado do filósofo e a forma como ele próprio, um homem de extremos, geria essa busca pelo equilíbrio". Conta Lyon, que depois de ler "todos os escritos de Aristóteles", percebeu que ele, afinal, "seria aquilo a que hoje chamamos de bipolar". Nos seus livros, a depressão está relatada de forma muito real, "dando mesmo a entender o seu lado maníaco-depressivo".

Mas esta é só uma das histórias que a História ocultou. Por exemplo, sabia que Alexandre era um alcoólico crónico? Annabel descobriu-lhe o vício e quis partilhar: "Fiquei surpreendida com as semelhanças entre a a formas de vida na Grécia Antiga e a actualidade." Isto porque Alexandre, que sempre foi descrito como um génio militar, um homem sexy e carismático, líder incontornável, na realidade, sofria de alcoolismo crónico.

"Ao ler as biografias dele, apercebi-me das constantes referências aos excessos de álcool e consequentes desmaios e balckouts, tendências depressivas", explica Lyon, ao mesmo tempo que lembra que "estes são sintomas que hoje reconhecemos nos soldados que regressam do Afeganistão, embora agora se apelidem de stress pós-traumático". Afinal, conclui, "ser soldado tem os mesmos efeitos psicológicos, independentemente do período da História".

O livro Começou a ser escrito em 2001, logo depois dos atentados de 11 de Setembro. "Na altura já andava a ler sobre Aristóteles e encontrei um paralelo entre a tragédia e as suas teorias sociais (O que faz um bom cidadão" ou "Como gerir situações extremas") e pareceu-me uma espécie de resumo do que aconteceu em Nova Iorque. Era disso que se falava na altura e por isso percebi que podia ajudar através da ficção - dando a conhecer as filosofias pelas quais ainda hoje se regem as sociedades." Até então, Annabel só tinha assinado uma colectânea de três contos, em 2000.

Foram sete anos e meio de escrita diária, que intercalaram a vida pessoal com as horas passadas, "em cafés", sentada ao computador.

Quase um ano depois da publicação no Canadá, o livro chegou a Portugal e está disponível para venda em mais de 18 países. Mas parece que é por aqui que os leitores conhecem melhor a história do filósofo e do pupilo. "Fiquei muito impressionada quando soube que em Portugal se estuda Aristóteles, o que para mim foi grande novidade, já que nas escolas Canadá, ele é totalmente esquecido."

"Aristóteles e Alexandre" foi distinguido, em 2009, com três nomeações literárias no Canadá - Scotiabank Giller Prize, o Governor General''s Award for English language fiction e o Rogers Writers'' Trust Fiction Prize -, mas sem sucesso.

Não arrecadou nenhum dos galardões, mas foi seleccionado para integrar a lista de nomeados para o Prémio Da Pior Cena de Sexo em Ficção que, "felizmente, também não ganhou".

"Nunca me vou livrar disto", diz entre risos. "nunca soube qual era a cena nomeada. Imagino que seja o epsisódio de sexo entre Aristóteles e a mulher, mas esse foi escrito para parecer mesmo desconfortável, já que ele era velho e ela não gostava de sexo", justifica. "Mas nunca vou saber."

Para 2013 está prometida a publicação da sequela, desta vez pelos olhos de uma mulher, a filha de 16 anos de Aristóteles.

Nelma Viana, aqui