PSD já admitiu coligação e garante que nunca será pré-eleitoral.
Coligação, sim. Uma nova Aliança Democrática (AD), não. O PSD quer aliar-se ao CDS-PP para formar um governo mais estável mas nunca antes das eleições, ao contrário do que aconteceu em 1980 com o governo a ser constituído pela coligação eleitoral formada pelo Partido Social Democrata, o Centro Democrático Social e o Partido Popular Monárquico.
"Já toda a gente percebeu que vai haver governo PSD-CDS. O governo do PS está a cair e esta é a alternativa", afirma ao i Marcelo Rebelo de Sousa. "A dúvida está na fórmula de coligação", admite. Mas na direcção do PSD, o caminho a seguir já está pensado. O secretário-geral do partido confirma ao i que qualquer acordo com o CDS-PP "será sempre feito depois das eleições", reiterando as palavras de Passos Coelhos: "Mesmo em caso de maioria absoluta o partido irá governar em conjunto com o CDS-PP ".
A estratégia do líder social-democrata é "pacificar à direita" mas a contrapartida é dar ao CDS um "peso negocial maior". "O PSD torna desde já claro que não fica com um partido à direita na oposição. Já bastam três partidos à esquerda e as centrais sindicais. Mas a questão é que dá muito peso ao CDS. Não vai conseguir apelar ao voto útil no PSD, porque os eleitores normais do CDS, sabendo que este partido vai para o governo, continuarão a votar CDS e não passam para o PSD", aponta Marcelo Rebelo de Sousa.
A invocação da AD como solução para todos os males do país não é consensual. "É necessária estabilidade governativa. As dificuldades têm de ser ultrapassadas num clima de trabalho conjunto mas não me parece avisado estar a transpor a realidade do que foi há 30 anos", afirma Basílio Horta, co-fundador do CDS e ministro no tempo da AD. "O grande objectivo do país na altura era consolidar a democracia. Hoje é normalizar a economia e as finanças públicas", lembra. Já o candidato presidencial Defensor Moura recorda que os governos da AD levaram o "país à bancarrota". "Não se devem desenterrar mitos falsos para tentar soluções que não são eficazes. A AD, ou uma junção do PSD com o CDS, nunca deu esses resultados tão bons como estão a querer dizer que deu", acusa o deputado do PS, em declarações à Agência Lusa.
Dentro do PSD, há quem se desvie da linha que Passos Coelho quer seguir e admita que uma coligação só deveria ser pensada consoante os resultados eleitorais. "Faz sentido um governo com maioria absoluta com legitimidade renovada. É útil que esse governo tenha por base o PSD. Se é necessário uma AD ou não, essa questão vai resultar do momento das eleições", considera Rui Machete, vice-primeiro-ministro do governo do Bloco Central. "Vai depender da percentagem da maioria e das circunstâncias. Agora é necessário tomar medidas para a execução orçamental. A médio prazo haverá a necessidade de uma legitimidade renovada com eleições. Mas não nos devemos distrair com cenários", acrescenta. O outro cenário possível, uma coligação com o PS, é desde logo rejeitado pelo antigo líder do partido: "Não é das fórmulas mais convenientes porque são partidos de alternativa".
O entendimento entre os líderes dos partidos à direita vai dever-se mais a "questões de programa e opções políticas do que de personalidade", afirma Machete. "Seguramente será diferente da AD. Nem Pedro Passos Coelho é Sá Carneiro, nem Paulo Portas é Freitas do Amaral ou Amaro da Costa", lembra Basílio Horta.
Uma coligação "é um cenário a longo prazo" e ainda "não há um projecto comum", defende Miguel Relvas, referindo que Passos Coelho e Portas "falam quando têm de falar" e que a relação entre os dois é "normal". Para Marcelo Rebelo de Sousa, "é possível darem-se bem" até porque "Paulo Portas pode dar um contributo muito importante": "Tem a experiência governativa que Passos não tem. Com Durão Barroso foi ao contrário, Barroso já tinha anos de governo e Portas não. Agora, a experiência de Portas será importante no funcionamento do governo."
Sónia Cerdeira, com Filipa Martins, aqui