quinta-feira, 25 de novembro de 2010

INVESTIR SEM TENTO NEM EDUCAÇÃO*

Na passada semana pôde ter-se no Jornal da Bairrada, o que várias vezes já foi dito nas assembleias municipais pelos representantes do poder em Oliveira do Bairro ou seja, que a construção de 8 (nada menos do que 8!) pólos escolares em 6 (apenas 6!) freguesias, não é uma despesa mas sim um investimento na educação.

Estas declarações não passam de impertinências próprias de quem tem vistas tão curtas que, denotando uma clara falta de aptência para expressões, evidencia não ter entendido ainda que a educação resulta de estudo e empenho, e não do facto de os edifícios escolares terem telhados pejados de clarabóias, paredes exteriores revestidas a material nobre e as interiores forradas de quadros interactivos.

Bastaria, aliás, a consulta de um qualquer dicionário para ficar a saber que investir na educação é investir no conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito, com vista à eliminação do analfabetismo, da iliteracia e do abandono escolar, e não propriamente no conjunto de elementos de construção civil com que se procede à edificação de um edifício escolar.

Perante isto, seria importante que os que dizem que a aposta na construção de 8 novos pólos escolares num concelho com apenas 6 freguesias não se trata de despesa mas sim de investimento, se questionassem por que razão é que a Carta Educativa Concelhia aprovada é absolutamente omissa em relação a um qualquer projecto educativo para o concelho.

Vindas de quem vêm, intervenções desse calibre (que bem poderiam ser encadernadas numa antologia humorística não fosse esta uma questão da maior relevância para a qualidade de vida de milhares de crianças e das respectivas famílias), que associam a oposição a essa construção de 8 novos pólos escolares num concelho com apenas 6 freguesias à ideia de não querer o melhor para as crianças de todo o município, apenas logram tapar o sol com a peneira traduzindo uma atitude de pura irresponsabilidade política.

De facto, quem diz que essa aposta apenas reflecte o querer da esmagadora maioria dos munícipes, certamente não duvida que essa mesma esmagadora maioria também quer uma alameda e um posto da GNR na sua freguesia, como quer que a sua rua tenha condições de excelência para receber um final de etapa da volta a Portugal em bicicleta; e também quer um centro cultural, um campo relvado com bancada coberta e uma piscina aquecida no lugar onde vive; como também quer que a feira industrial agrícola e comercial se realize pelo menos uma vez por trimestre, que as freguesias sem fronteiras sejam mensais terminando todas com uma monumental descarga de fogo de artifício, que a ida dos idosos à Malafaia seja todos os sábados e a festa da criança todos os domingos, e que a unidade de saúde familiar da sua freguesia funcione 24.00h por dia durante 7 dias por semana.

E, porque pedir não custa, a dita esmagadora maioria também quer que todas as aldeias do concelho tenham um balcão dos correios e uma farmácia onde haja sempre sal de fruta e antiácido, para atalhar as indisposições dos que se arvoram donos do concelho quando a verdade é que nem dentro do próprio partido lhes é reconhecida capacidade para liderança; e tudo isto sem esquecer, claro está, que essa á a mesma esmagadora maioria que também quer que as taxas de água e saneamento voltem a ser as de há um ano atrás, pois o município transferiu por 50 anos a sua competência para terceiros sem ter auscultado a opinião dos munícipes!

Neste tempo em que o executivo no poder avança para a execução quase simultânea de obras no valor de 31 milhões de euros, (8 pólos escolares, alameda, casa da cultura, conclusão da biblioteca e auditório em Oiã e da feira da Palhaça, cujas comparticipações do QREN sobre o investimento elegível são de cerca de 52,5%), muito mais importante do que apoiar esse registo de ostentação megalómana, seria explicar por que razão se aplaude um esforço financeiro próprio do município próximo de 15 milhões de euros, em lugar de preconizar a redução do número de pólos escolares a par da implementação de uma bem estruturada rede de transportes escolares que assegure o transporte dos alunos entre as suas residências e os novos pólos escolares, mesmo situados noutra freguesia, passando o município a dispôr de uma frota capaz de assegurar transportes públicos, não só nos intervalos lectivos diários, mas principalmente durante os períodos de férias.

Só que para ser assim, a aposta na educação terá que ultrapassar o nível do umbigo porque haverá menos placas para descerrar e menos fotografias para mais tarde recordar!

Mas como parece que assim não será, o investimento na educação será sem tento nem educação.

Jorge Mendonça
(Vereador não-executivo da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro)

*versão integral do artigo publicado na parte inferior da pág. 3 da edição de hoje do JORNAL DA BAIRRADA