terça-feira, 9 de novembro de 2010

IGREJA PEDE RESISTÊNCIA AO ACORDO NO ORÇAMENTO

Em posição dura, os bispos mostram-se preocupados com a "falta de verdade nos centros de decisão da gestão pública" e pedem aos portugueses que não pactuem com os "consensos políticos mínimos".

A Igreja Católica portuguesa ergue a voz contra "jogos político-partidários pouco transparentes" e, em jeito de repto de resistência ao acordo que PS-PSD viabilizaram para o Orçamento, pede aos portugueses para não pactuarem com "consensos políticos mínimos".

Numa posição muito dura, e sem se referir directamente à negociação e aprovação do Orçamento do Estado, os bispos fazem a sua leitura do actual momento político, apelando para que o actual Governo socialista ajude os mais desfavorecidos.

A pergunta do presidente da Conferência Episcopal, D. Jorge Ortiga, resume a posição da hierarquia: "Sem o testemunho nem os exemplos das lideranças, como se poderá pedir sacrifícios às pessoas?"

No discurso de abertura da assembleia plenária dos bispos, que decorre, desde ontem e até quinta, em Fátima, o presidente da CEP leu seis páginas, um documento com dedo acusador para a classe política: "A comunidade humana não pode pactuar com a teoria dos consensos políticos mínimos que geralmente não resultam em soluções sustentadas", frisou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. "Pela missão que nos cumpre anunciar, não podemos deixar de evidenciar a nossa perplexidade pela falta de verdade nos centros de decisão da gestão pública, pela ausência de vontade de solucionar os desafios actuais e pela ânsia obsessiva do lucro que conduz à desumanização da vida."

Posição frontal dos bispos portugueses a questionar a conduta dos políticos, precisamente numa altura em que também a hierarquia da Igreja Católica portuguesa reflecte como, ela própria, responde aos desafios da sociedade. O apelo ao Governo foi directo: "Passando a sociedade portuguesa por particulares momentos de crise e estando em processo de efectivação duras medidas de austeridade, apelamos às instâncias governativas para que as classes mais desfavorecidas sejam menos penalizadas e mais ajudadas". E, a essa postura dos responsáveis políticos, a voz de D. Jorge Ortiga ouve-se com firmeza contra a "inverdade frequentemente resultante de querelas pessoais e de jogos político-partidários pouco transparentes, que aprisionam os líderes aos interesses instalados nas estruturas público-privadas".

O arcebispo exorta à "humanização da vida pública" porque o "sentido de responsabilidade pública e de participação na vida democrática exigirá líderes com propostas novas e sérias que visem promover a equidade e a coesão da sociedade portuguesa". E sublinha: "A verdade é um imperativo colocado a todos, é um acto de honestidade, sobretudo ao nível dos centros de decisão dos diversos cargos."

Paula Carmo, aqui