População homossexual portuguesa não planeia o envelhecimento e não fala com o clínico de família, apesar de ter historial de doenças sexualmente transmissíveis.
Os homossexuais portugueses não revelam a sua orientação sexual aos médicos de família, apesar de quase todos terem um historial de doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, confessam que também não planeiam o envelhecimento, embora receiem a solidão e serem separados dos companheiros se forem para um lar de terceira idade.
Estas são umas das primeiras conclusões do inquérito feito no mestrado sobre Envelhecimento e Minorias Sexuais: ambiente psicossocial e necessidades de saúde, de Julieta Azevedo, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada.
O objectivo do trabalho é perceber as necessidades psicossociais e de saúde da população homossexual com mais de 50 anos. Para isso, a investigadora está a fazer o levantamento através de um inquérito online, ao qual responderam até agora 30 pessoas. "Ainda são poucas, mas já dá para perceber alguns dos problemas desta população", reconhece a investigadora Julieta Azevedo.
Um deles é o desconhecimento dos clínicos em relação à vida sexual dos doentes. De acordo com as respostas no inquérito, estes não revelam a sua orientação sexual "porque os médicos não perguntam e eles acham que não é relevante", justifica.
Por isso, um dos objectivos deste estudo passa também por "conseguir uma mudança de atitude por parte dos médicos, para que abordem este assunto nas consultas". Uma medida que o presidente da LIGA Portugal, Paulo Côrte-Real, também defende.
A forma como preparam o seu envelhecimento também revela algumas fragilidades, sublinha Julieta Azevedo. "A rede social desta população é muito reduzida. Quase todos admitem que quase não fala com a família e é nos amigos, a maioria da comunidade LGBT [(Lésbicas, gays, Bissexuais e Transgéneros] que se apoiam", explica.
Além disso, "não há uma estrutura social que os proteja". Os lares também não estão a par da sexualidade das pessoas que acolhem. Ou seja, "não há um acompanhamento do envelhecimento", conclui a autora do estudo. Em parte, porque os homossexuais "não se prepararam e não têm a quem recorrer quando envelhecem".
Julieta Azevedo adianta que os próprios gays admitiram no inquérito que "a sua maior preocupação é acabar sozinhos ou serem separados dos seus companheiros, uma vez que a maioria dos lares não aceita casais".
Em termos de saúde, o estudo mostra que, tal como revelam as investigações internacionais, esta população está mais exposta à depressão, as mulheres têm uma taxa de incidência maior de cancro da mama e os homens de can- cro rectal, explica Julieta Azevedo. Mas ao contrário de outros estudos, em Portugal a comunidade gay com mais de 50 anos não apresenta maior taxa de alcoolismo ou obesidade, por comparação com a população em geral com esta idade.
Apesar da evolução social, o preconceito pode continuar a perseguir os homossexuais idosos. "Aqueles que estão a envelhecer enfrentam agora pessoas da mesma idade que ainda não compreendem a sua orientação sexual, como os jovens já aceitam", diz.
Ana Bela Ferreira, aqui