segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CRISE 'APAGA' ILUMINAÇÕES DE NATAL EM VÁRIAS CIDADES: E EM OLIVEIRA DO BAIRRO?


Não há concelho do Grande Porto que tenha decidido optar por um "apagão" natalício, mas, em nome da crise, todos garantem que vão desinvestir nas ornamentações de Natal. As ruas darão menos brilho a um comércio que já diz já viver na escuridão.

Árvore de Natal gigante iluminada.
Tempos houve em que a Câmara do Porto disponibilizava meio milhão de euros para adornar as principais ruas de comércio da cidade. Porém, nos últimos anos, os gastos têm sido acautelados.

Se em 2009, a Autarquia gastou 300 mil euros nas decorações, este ano o corte é ainda mais significativo: 104 mil euros, "estando prevista, inclusive, uma adjudicação num valor inferior, devido as medidas de contenção", explicou, ao JN, fonte municipal.

No entanto, e independentemente das medidas de racionalização de recursos, a Autarquia garantiu que "foi feito um esforço no sentido de encontrar uma solução com dignidade e o maior nível de abrangência possível, dando uma especial atenção à Baixa".

Em Vila Nova de Gaia a conteção é mais radical: no ano passado gastaram-se cerca de 127 mil euros, este Natal só há 20 mil para enfeites de ruas.

Matosinhos é outro concelho onde se admite que gastar menos dinheiro nas iluminações de Natal. "São medidas progressivas de racionalização", disse fonte da Câmara, garantindo que pagar-se-á 185 mil euros pelas ornamentações, menos 20 mil euros do que foi gasto o ano passado.

Há dois anos, Matosinhos pagou 350 mil euros para ornamentar as ruas. Quase o dobro do que será investido este ano.

Os mesmos cortes orçamentais acontecerão na Maia, onde as "contenções de custos" não impedirão a cidade de ter as ruas decoradas. "Serão mais remediadas do que o ano passado", justificou fonte da Autarquia, que referiu que se gastará "metade do orçamento investido o ano passado", ou seja, cerca de 14 mil euros.

Também a Câmara de Gondomar argumenta que a verba este ano será "cerca de 20% da de 2009, que rondou os 60 mil euros". Ou seja, Gondomar gastará de 12 mil euros.

Ainda sem números certos mas com cortes garantidos estão Paredes, Lousada, Póvoa de Varzim, Trofa, Baião e Espinho. Destaquem-se Felgueiras porque passa de 58 mil para 5800 euros e Santa Maria da Feira que em vez de gastar 32 mil euros disponibilizará, apenas, 3500.

António Castro, administrador da Castros Iluminações Festivas, empresa responsável pela maioria das iluminações de Natal, confirmou, ao JN, que tem havido "um esforço de contenção por parte dos clientes nacionais face à conjuntura desfavorável".

Escuridão já se vê no comércio.
Não é festivo o Porto comercial destes dias. O homem-sanduiche, a soldo de alguém que compra ouro usado, na Rua de Santa Catarina, é paradigma do espírito que se apossou das gentes.

Do medo de gastar e da impossibilidade de o fazer, as unhas da crise estão cravadas bem fundo em muitas bolsas. Cortar os gastos nas luzes decorativas poderá ser uma medida óbvia, há quem aplauda, mas teme a gente das lojas que a descaracterização da cidade natalícia poderá afastar ainda mais os clientes. E isso faz temer pelos postos de trabalho.

A trabalhar na Baixa há três décadas, Virgílio Pereira, da ourivesaria Perfecta, não concebe o desinvestimento. "É um menosprezo da Baixa e do comércio tradicional por parte das entidades competentes. Há muitos outros factores em que são gastas verbas de forma indiscriminada, que não servem de modo nenhum os portuenses ou o turismo", diz, lembrando que noutros anos, por esta altura, as estruturas já estariam a ser montadas e referindo, pela experiência, que muitas famílias fazem compras justamente por ficarem absorvidas pelo "espírito de Natal".

Será um espírito consumista, é certo, coisa que Maria Armanda Pereira, cliente numa loja de pronto-a-vestir, recusa. "Não venho para ver luzes. Acho agradável, mas não é isso que me motiva", diz, saudando a medida como adequada ao momento e admitindo ter agora mais cuidado com o que compra, até por ter dois filhos a estudar na universidade.

Cuidado é o que Bárbara Almeida vê entre os clientes da Tanara, uma loja de roupa. "As pessoas estão muito assustadas. São abonos cortados, é o Orçamento de Estado... Pensam muito bem antes de comprar", diz, admitindo, pela experiência de anos anteriores, que as iluminações atraem gente e mostrando-se apreensiva pela dificuldade que as lojas têm para alcançar resultados.

Já Lina Matos, trabalhadora da sapataria Gata, embora admita que as luzes de Natal atraem gente, concorda com os cortes: "Se o país está em crise, que adianta gastar dinheiro nessas coisas?". Amélia, uma colega, é que não está pelos ajustes: "Eles que paguem a crise, os cabecilhas!".

Marta Neves e Pedro Olavo Simões, aqui