quarta-feira, 13 de outubro de 2010

REIS QUE AMARAM COMO RAINHAS

A intimidade sexual dos protagonistas da história portuguesa surge em livro como até agora nunca acontecera. Boatos, referências e suspeitas preenchem 350 páginas.

O título é sugestivo e, à primeira vista, nem a capa sugere o ângulo da investigação que Bruquetas de Castro optou ao fazer a sua versão da história - a homossexualidade dos reis, príncipes e nobres -, mesmo que a ilustração seja uma imagem de umas pernas reais bem torneadas, com lacinhos à altura do joelho, como mandavam então as regras da moda.

A obra chama-se "Reis Que Amaram como Rainhas", foi publicada recentemente pela editora Esfera dos Livros, e logo no índice o nome de 45 heróis masculinos que privaram com outros homens é bastante abrangente a nível mundial.

Para que os leitores nacionais não se queixassem, o historiador, que vive nas Canárias, acrescentou alguns capítulos feitos especialmente para os portugueses, de modo a que não estivessem em minoria quanto aos protagonistas de outros países que esconderam a alegada faceta homossexual durante a governação ou a exuberante vida social nas cortes.

O historiador assume-se homossexual e não esconde um interesse pessoal na vertente escolhida para os seus estudos históricos. "Se eu não fosse homossexual, não me teria colocado a questão. Realiza-me como historiador poder deixar um grão de areia na luta pelo esclarecimento da homossexualidade de um ponto de vista histórico." E é o que faz, ao levantar uma nuvem de poeira no que respeita à história de Portugal.

Entre os capítulos dedicados a heróis nacionais, há quatro que se destacam, sendo a personagem histórica que mais surpreende o infante D. Henrique, mesmo que para Bruquetas de Castro, "apesar das recentes tentativas para aprofundar a vida do príncipe", a biografia continue a ter lacunas. A principal, diz, é de âmbito sexual porque a apregoada castidade "parece mais fruto de uma lenda que realidade". Para além de poder ter sido pai de um filho bastardo, o infante não seria "uma virgem doentia como a história oficial o retrata, mas uma personagem sexualmente activa". Segundo Bruquetas, "encobria-se uma tendência sexual que no seu tempo não só era malvista, como era anátema, pecado e delito castigado com a pena máxima pela Inquisição".

No insuspeito D. Pedro I, conhecido pela paixão por Inês de Castro, o autor garante: "As tendências homossexuais de D. Pedro I estariam possivelmente relacionadas com episódios que alternavam com manifestações de heterossexualidade". Quanto a D. Sebastião, reúne referências que sugerem que "durante a juventude o rei poderia ter sido vítima de abusos sexuais no palácio" e exibe uma das provas da homossexualidade: "Ter sido encontrado abraçado a um rapaz negro" que "estava escondido no bosque" e sobre o qual o príncipe disse ter confundido "com um javali".

Também o conquistador de Ormuz, Goa e Malaca não escapa à investigação. Diz o historiador espanhol que Afonso de Albuquerque teria "mantido relações suspeitas com um clérigo". Serve-se de uma citação de outro historiador, Oliveira Martins, para suportar a tese: "O amor era o primeiro de todos os comércios de Ormuz e que as mulheres valiam tão pouco que até eram alvo de aversão."

A lista nacional de reis que amaram como rainhas ainda é longa. Aguarda-se pela resposta nacional a esta investigação espanhola.

João Céu e Silva, aqui