Em cima do Orçamento vem outro teste duro para o PSD: perante a greve geral, que fará o partido? Vai colar-se a uma estratégia que não é a sua? Não há muito espaço para mais erros.
Quando era mais novo, sempre tive curiosidade em saber o que diz um treinador a uma equipa antes de ela subir ao rectângulo de jogo. No jornalismo, matei a curiosidade na Finlândia, quando José Maria Pedroto e, salvo erro, Peres Bandeira permitiram que assistisse a uma dessas palestras. O momento valeu mais pela concentração e pela tensão nervosa que pairava no ar do que pelo conteúdo da mensagem, pois não há nada que se possa dizer a cinco minutos de um jogo começar que não tenha sido dito já.
Também ontem, terá havido alguma tensão nas "cabinas" do PS e do PSD enquanto Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga não conduziam as suas equipas à mesa das negociações. Mas também ali não há nada que possa ter sido dito que não tivesse já sido dito.
Ao escolher Catroga para conduzir as negociações, Passos Coelho deixa claro como está interessado - embora sempre o negue - em viabilizar o Orçamento. A escolha revela inteligência e humildade, pois se o PSD quisesse mesmo esticar a corda marcaria presença com o líder ou um dos vice-presidentes. Mas essa é também, daqui em diante, a fraqueza que a liderança do PSD terá de vencer. O partido necessita de reconstruir uma fase de afirmação semelhante à que teve com a chegada do novo líder e que foi destruída por uma estratégia desastrosa seguida neste processo do Orçamento, muitas vezes liderada por um personagem que, agora, nem sequer aparece na equipa chamada para negociar.
A má política do Governo, os erros, a inflexão por opções que o primeiro-ministro sempre recusou nada disso tem aproveitado ao PSD e José Sócrates continua com a popularidade intacta. O tempo não pára e, em cima do Orçamento, vem outro teste duro para o PSD: perante a greve geral, que fará o partido? Vai colar-se a uma estratégia que não é a sua? Não há muito espaço para mais erros. Enfim, espero bem que as conversas prévias dos estados-maiores dos dois partidos com os seus negociadores não tenham terminado, como no futebol antes da entrada em campo, com um grito de "Vamos a eles!" Afinal de contas, como ontem muito bem se acentuava neste espaço, estão em causa 10 milhões de pessoas que ainda não desistiram de ser portugueses.
P.S. - O presidente da Associação Sindical de Juízes escreveu, esta semana, um artigo em que acusava o Governo - e a Assembleia da República, que aprova o Orçamento - de estar a reduzir subsídios de que os juízes usufruem como retaliação por os juízes "terem incomodado boys do PS" no caso "Face Oculta". Os processos de intenção que se ouvem no futebol não são muito diferentes disto, mas a verdade é que tínhamos o futebol e o que se lá diz com todo o à- -vontade como um caso ímpar. No futebol é que temos visto gente querer fazer justiça com afirmações fortes, mas sem prova. Que ainda por cima seja um juiz a escrever uma coisa destas deixa-nos arrepiados e sem palavras...
José Leite Pereira, aqui