Rogoff prevê “muitos anos de estagnação".
Portugal é uma economia condenada ao fracasso nos próximos anos por causa dos planos de austeridade (no sector público e privado) que “têm” de ser postos em marcha e da “urgência” em pagar as dívidas do país ao exterior. Dois economistas presentes no painel que debate o futuro da dívida pública no Parlamento estão mesmo muito pessimistas.
Hoje ao início da tarde, Kenneth Rogoff, professor de Economia da Universidade de Princeton e co-autor de uma história sobre as crises financeiras dos últimos 800 anos, explicou que “é comum os países entrarem em default [incumprimento] depois de uma crise financeira de grandes dimensões”, como a actual. Disse ainda que “isso acontece porque a dívida pública costuma explodir depois de uma crise”. “Se Portugal vai ou não entrar em default, não sei, não temos forma de comparar, depende das medidas que conseguir tomar”.
Uma coisa é certa, continuou o professor, “um nível de dívida superior a 90% do PIB é pouco usual” e para fazer face a isso “sabemos que Portugal vai aumentar impostos e cortar na despesa o que levará a muitos anos de crescimento fraco”, lamentou.
José da Silva Lopes, ex-ministro das Finanças e ex-governador do Banco de Portugal, vê um futuro sombrio. “Desta vez tenho medo da vinda do FMI”, disse. “Isto vai dar recessão e séria”, comentou, assumindo que o plano de austeridade do governo vai mesmo para a frente. E de seguida contrapôs:
“Mas se não tomarmos estas medidas, então ninguém nos vai emprestar dinheiro lá fora e a recessão será mil vezes pior”.
No entanto, Silva Lopes disse que há medidas que estão no Orçamento do Estado que não tomaria: “não privatizava os CTT” e “não transferia o fundo de pensões da PT para o Estado”, por exemplo. Os CTT são uma empresa que presta um serviço público muito valioso; a passagem do fundo da PT é um negócio ruinoso que apenas serve para o Estado encaixar dinheiro já ao mesmo tempo que assume compromissos muito superiores no futuro a serem pagos pelos contribuintes, disse o economista. “O presidente da PT foi à televisão dizer que o negócio vai ser bom para a empresa e eu aí desconfiei logo”, confessou.
Efeito recessivo.
Ricardo Reis, professor da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, também admite que a subida de impostos “tem um efeito brutalmente recessivo na economia” que se prolongará por muitos anos. Em alternativa, o economista propõe, por exemplo, um aumento gradual do IVA em vez da subida integral de dois pontos percentuais que é proposta pelo governo. “O IVA podia subir de forma faseada, um ponto por ano. “Isso poderia estimular o consumo interno, já que as pessoas se sentiriam tentadas em antecipar algumas despesas antes do imposto subir”, justificou.
E sugeriu também uma medida que é bandeira do PSD: “a economia precisa de crescer” e, como tal, “é desejável que as empresas tenham menos custos”. “Reduzindo a taxa social única dos empregadores serviria como um subsídio à produção, com grande alcance nos sectores exportadores”.
Quanto à despesa pública, Ricardo Reis propõe que “o país regresse ao peso do Estado que tinha há dez anos atrás”. “Não é assim uma coisa tão inconcebível. Se na altura Portugal podia viver com um sector público dessa dimensão, também pode viver agora”, disse.
Luís Reis Ribeiro, aqui