terça-feira, 19 de outubro de 2010

ERA UMA VEZ...

QUEM CAÇA QUER CAÇA
Eram três caçadores. Um vinha à frente, outro no meio e o terceiro atrás. Percorriam terras e terras à procura de caça. Que caçavam eles? Tudo o que lhes passasse diante do cano das espingardas. Tudo o que cheirasse a bicho. Javalis, búfalos, panteras, tigres, elefantes, hipopótamos, crocodilos, hienas, lobos, lebres, coelhos, galinholas, perdizes, rolas, patos, pardais.

Mas pela região por onde se tinham metido, nada encontravam que se caçasse. Nem pulgas.

Dizia o primeiro caçador:
- Isto parece um deserto, colegas.
- Uma tristeza? Melhor seria desistirmos - dizia o segundo.
- Persistência, colegas! Onde está o vosso brio de caçadores? - perguntava o terceiro.

Eles não sabiam. Só sabiam que andavam naquela teima, há muitas e muitas horas, com a sacola às costas, os cartuchos pendurados e a espingarda aos ombros.
- E se nós déssemos uns tiros para o ar? - propôs o primeiro caçador.

O segundo apoiou:
- Boa ideia, colega. Sempre era uma forma de nos distrairmos.

O terceiro caçador cortou-lhes o entusiasmo:
- Não façam isso, que gastam cartuchos?

Os outros dois caçadores calaram-se. Tinham em muito respeito o terceiro caçador, o que vinha atrás de todos.

Andaram, andaram, até encontrarem à beira da estrada, muito sossegado, a ver quem passava, um coelhinho pequenino e inocente.
- Mata-se! - disseram os três ao mesmo tempo.
- Mas qual de nós? - perguntou um deles a medo.
- Eu.
- Eu.
- Eu.

Discutiram. Perderam o respeito uns pelos outros.
- Eu vi-o primeiro.
- Eu sou o chefe.
- Eu sou o mais velho.

Entretanto, o coelhinho pequenino e inocente desapareceu.
Onde está? Onde se meteu?

Olharam-se, desesperados, e como estavam furiosos, começaram a dar tiros para o ar, tiros ao desbarato. Pum! Pum! E mais Pum! Pum!

Quando tinham consumido o último cartucho, o coelhinho pequenino e inocente apareceu de novo, muito interessado em saber qual a razão de toda aquela barulheira.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui