quinta-feira, 21 de outubro de 2010

CRIANÇAS PEQUENAS SABEM USAR A IRONIA

De pequenas começam as crianças a ser irónicas.

Foi o que descobriram investigadores canadianos, depois de ouvirem 350 horas das conversas de 39 famílias, cada uma com dois pais e com crianças com idades entre dos dois e os seis anos.

Todas crianças mais velhas fizeram pelo menos uma declaração irónica, tal como 38 mães, 26 pais e 37 irmãos mais novos, num total de 1661 comentários não literais.

Sarcasmos, hipérboles, ironias e perguntas retóricas são totalmente compreendidos pelos mais pequenos. Algumas crianças sabem mesmo como usar o registo correctamente no discurso, apesar de serem incapazes de explicarem o que fizeram.

“Vemos que as crianças respondem apropriadamente a esta linguagem durante uma conversa”, explica Holly Recchia, professora na Universidade Concordia, em Montreal, Canadá e umas das principais autoras do estudo.

“Mas isso não quer dizer que consigam explicar esse entendimento de forma explícita”, disse, em declarações ao “The New York Times”.

As hipérboles e as perguntas retóricas são as mais utilizadas pelos miúdos. Numa situação de conflito, as crianças recorreram às perguntas retóricas e à ironia, enquanto que numa interacção positiva socorreram-se do sarcasmo e das hipérboles.

Comparando com o discurso dos pais, as crianças usam mais a hipérbole, geralmente para enfatizar graves injustiças praticadas contra elas pelos irmãos ou pelos pais: “Nunca me dás uma mesada, mesmo quando me porto bem” ou “Não vou dormir nunca, nunca, nunca!”.

Diz ainda Holly Recchia mesmo que as crianças tenham uma compreensão limitada da ironia, esta pode ser útil.

“Os pais tendem a ver a linguagem irónica de forma negativa, mas esta nem sempre ela é maldosa”, explica a investigadora. “Às vezes, é divertida. Eventualmente, pode até ser que o humor e a ironia ajudem a neutralizar situações que de outra forma gerariam conflitos. E isso pode ser uma ferramenta bastante eficiente”.

Segundo a mesma investigação, são as mães as campeãs da ironia e das perguntas retóricas, linguagem que usam mais em situações negativas do que em positivas.

“Se calhar, as mães assumem papéis de professora ou de chefes”, adianta Holly Rechia. Se as mães estiverem envolvidas na gestão de conflitos, pode recorrer mais à ironia por ser este um instrumento mais eficaz do que o sarcasmo.

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