Num cenário de crise e subida de impostos e do custo da vida, perder o emprego é uma das maiores preocupações dos portugueses. Compreende-se porquê: nunca tantos estiveram sem emprego, quase 730 mil, contando com quem já desistiu de encontrar trabalho ou foi forçado a aceitar um part-time. E, a avaliar pelas previsões internacionais, a situação vai piorar antes de ficar melhor.
Não só o desemprego ainda deverá subir, como as ajudas excepcionais criadas pelo Governo em 2008 foram, ou estão para ser, retiradas.
Não será só culpa da crise mundial, já que a falta de trabalho vinha a agravar-se desde a crise de 2003. Mas, no último ano, disparou: perto de cem mil pessoas viram-se sem trabalho - pior, sem expectativas de voltar a trabalhar no curto prazo - e 90 mil juntaram-se ao rol dos desempregados de longa duração.
Os jovens não ficaram imunes e cem mil estão oficialmente desempregados. Os dois grupos - os que já esgotaram a duração do subsídio de desemprego e os que não fizeram descontos suficientes para ter direito - ajudam a explicar os perto de 300 mil portugueses que dizem querer trabalhar sem o conseguir e que não têm subsídio.
É a retirada das ajudas aos desempregados - "mas não às empresas", diz o dirigente Arménio Carlos - que mais enfurece a CGTP, que promete um final de Verão "quente". "Não foram os trabalhadores que estiveram na origem da crise, mas são eles os chamados a pagá-la", afirmou. Para Arménio Carlos, o último ano mostra a "insensibilidade social" do Governo. "Quando é mais difícil encontrar trabalho, tira as ajudas aos desempregados", como o prolongamento do subsídio social de desemprego ou a redução do tempo de descontos necessários para ter direito à prestação.
A ajuda, contudo, nem chegou a todos os desempregados. Cristina Andrade, do FERVE, lembra que os estimados 900 mil falsos recibos verdes não têm direito a subsídio de desemprego, apesar de serem os primeiros a perder o trabalho. O programa de estágios , assegura, "só aumenta a precariedade" e nem os apoios à contratação tiveram um impacto real. Como "perder o emprego é ter que trabalhar quase a custo zero", a solução é emigrar, diz.
Tem, apesar de tudo, a expectativa que o futuro traga boas notícias, mas por uma razão: "a insatisfação social", que "obrigará" a mudanças de política. A mesma de que fala Arménio Carlos.
A insatisfação é generalizada. Também do lado das empresas se insiste na necessidade de mudar o contexto em que trabalha quem contrata. "Não há emprego sem empresas e não há emprego de qualidade sem empresas saudáveis", diz Gregório Rocha Novo, da CIP, para quem a lei do trabalho deve ser adaptada em função da situação económica - teoria para a qual recebeu alguma abertura do Ministério do Trabalho, diz.
Entretanto, ainda não há sinais firmes do fim da crise. "Ainda não se tem a convicção de que esta retoma é sustentável", disse Rocha Novo. Enquanto assim for, garante, as empresas continuarão a não abrir lugar nos seus quadros.
O melhor
No auge da crise que atingiu o sector automóvel, um acordo entre a Autoeuropa e os trabalhadores viabilizou a continuidade da empresa. É a prova de que trabalhadores e empregadores se podem entender.
O pior
Disparar do desemprego, sobretudo de longa duração; fim das medidas extraordinárias de apoio a desempregados e de parte das ajudas à contratação; falta de perspectivas de melhoria da situação.