O silêncio é o modo como o chamado "multiculturalismo" resolve os impasses morais a que o conduz o seu relativismo. Ou muito me engano ou nenhum dos partidos que, em Portugal, fazem bandeira política da igualdade e dignidade das mulheres (e dos direitos humanos em geral) se manifestou ainda sobre a condenação, no Irão, à morte por apedrejamento de Sakineh Ashtiani, de 43 anos, acusada de alegado adultério.
"Adultério", em regimes islâmicos como o do Irão, é qualquer relação sexual fora do casamento, abrangendo não só pessoas casadas como viúvas ou divorciadas e homossexuais. Até ser-se vítima de violação é "adultério".
Em 2008, na Somália, Asha Ibrahim, de 13 anos, foi levada para um estádio e ali publicamente apedrejada até à morte pelo "crime" de ter sido violada. Para prolongar a agonia e sofrimento dos condenados, o art.º 104.º do Código Penal iraniano manda que as pedras "não podem ser tão grandes que matem imediatamente, nem tão pequenas que não possam ser classificadas de pedras". Nada disto incomoda a boa consciência "multicultural". O que a incomoda é a proibição da "burka" em França.
Manuel António Pina, aqui