Que as autarquias têm um fraquinho maior por Tony Carreira do que pela fadista Mariza é senso comum e conhecimento digno de conversa de café. Mas a questão ganha novos contornos quando se sabe que o artista de Pampilhosa da Serra motivou no ano passado adjudicações directas camarárias superiores a 800 mil euros, tendo ficado a fadista pelos 257 mil.
Os dados, recolhidos pelo i na base de dados dos contratos públicos, podem ou não chocar o contribuinte mais cumpridor. O certo é que, com o programa de austeridade em marcha e perante o aumento de impostos, é difícil não pôr os olhos na despesa do Estado. Grão a grão, enche a galinha o papo, diz o povo. E a sabedoria popular costuma ser boa conselheira quando o assunto é poupança.
Pesquisando no portal, fica-se com a sensação de que muita despesa corrente não está ali representada. Porém, os valores disponibilizados referentes a 2009 já são, por si só, indicadores valiosos. O total gasto em viagens (cerca de 12 milhões de euros) permitiria comprar 5646 passagens aéreas de volta ao mundo (bilhete de 2152 euros, no grupo Oneworld) e as adjudicações directas para festas e festivais ascendem aos 13 milhões. A colocação de máquinas de café automáticas com moedas faria poupar ao erário público, pelo menos, 650 mil euros nesta bebida, e a migração para software de código aberto ou livre significaria um abate assinalável numa despesa total de mais de 75 milhões de euros.
A utilização de uma central de compras poderia igualmente significar poupança: são múltiplos os fornecedores do Estado, estejamos a falar de papel higiénico ou de mobiliário.