quarta-feira, 26 de maio de 2010

GANHAR DIREITO DE CORTAR A DIREITO

A democracia tem a mesma função da confissão católica: lava-nos os pecados passados. Com eleições ganha-se uma virgindade nova. Sorte a dos britânicos que marcaram umas eleições depois de ter eclodido a crise a sério. Eles não estão com os problemas de Portugal e de Espanha (sim, Espanha também: "Não fui eu que mudei, foram as circunstâncias", disse Zapatero e titularam, ontem, os jornais), onde não se pode decidir cortes e cinto apertado sem ver devolvida a responsabilidade: mas não foram vocês que nos levaram a isto? Claro que foram, estes, o actual governo de cada um. Essa é a resposta certa, com um porém: falta um também. A crise é geral na Europa e a Europa viveu e vive acima das suas possibilidades. Este governo (português, espanhol, grego, irlandês, francês...) é responsável, como o foram os seus antecessores. Nenhum previu. Nem ninguém realmente previu: acreditem, Medina Carreira ainda não foi chamado mais longe do que à SIC Notícias, nem a Badajoz. Sorte, dizia eu, a do Reino Unido, que pode cortar a direito, porque o governo acaba de ser virgem. Ele pode bater forte (congelar o recrutamento de funcionários) e fazer bonito (diminuir o números de altos funcionários que andam em 1.ª nos comboios) e até avisar que o mais duro está para vir. Os que aceitamos como inocentes são sempre aqueles a quem permitimos a mão mais pesada.