terça-feira, 25 de maio de 2010

MANIA DAS GRANDEZAS

A mania das grandezas já vem do tempo de D. João V, o perdulário.
Conta-se que a seu pedido, se deslocou a Amesterdão um seu emissário para encomendar a um dos melhores fabricantes da Europa, um carrilhão para o Convento de Mafra. 
Para surpresa do enviado real, e porque o custo era demasiado alto, o artesão não aceitou a encomenda sem que o preço do carrilhão fosse por este transmitido ao rei português. Ao que consta, o nosso D. João V achou tratar-se de uma humilhação aquilo que para o artesão holandês era elementar: não iniciar um trabalho sem que o dono da obra conhecesse e aceitasse o preço. Em resposta à suposta humilhação, D. João V encheu o peito e não fez a coisa por menos: encomendou dois carrilhões!
Ainda hoje estamos a pagar esta herança. Os nossos poderes, quer o central quer o local, continuam perdulariamente, com a mania das grandezas e a ostentar riqueza que não têm; e assim, o esforço dos portugueses será sempre inútil, enquanto os poderes não se limitarem a servir os cidadãos em vez de se servirem destes.
Estamos todos de acordo que o tempo que corre é de crise financeira, e que os sacrifícios devem ser repartidos por todos, não podendo ficar ninguém de fora, desde o poder central ao das regiões autónomas, desde as autarquias às empresas, à banca e ao comum dos cidadãos. No entanto, o nosso primeiro ministro continua a cismar com o TGV; cá pelo burgo, o presidente da câmara municipal recusa admitir que alguma das obras prometidas em campanha eleitoral seja preterida, ou pelo menos adiada, seja a construção de mais seis (!) novos pólos escolares ou do mercado municipal, seja a execução da alameda da cidade ou da casa da cultura, seja a requalificação das zonas ribeirinhas e das zonas industriais, seja a criação de um parque tir, seja a execução do parque verde da cidade ou do parque dos pinheiros mansos; e isto sem esquecer que se trata de investimentos em obras que não só não libertam recursos como ainda por cima continuarão a consumi-los com as necessidades a sua conservação, manutenção e funcionamento. E para culminar, não haverá poupança no fogo de artifício.
Quando a cepa nasce torta, diz o ditado que tarde e mal se endireitará.
Mas assim, será difícil lá chegar!