Depois de tantas
promessas falhadas e tantas trapalhadas, Passos Coelho e o seu governo tiveram
o seu momento de glória, no domingo, na hora nobre dos telejornais.
Afinal,
Passos anunciou o que vinha insinuando nos últimos tempos: uma saída limpa, sem
rede de segurança, “sem recorrer a qualquer programa cautelar”, para eventuais
tropeções e inesperados percalços no caminho que continua a ser difícil.
Isto
não é uma vitória limpinha, limpinha, porque o país continua a amargar a crise,
uma espécie de amêndoas de páscoa retardada, após uma dolorosa crucificação dos
mais fracos e pobres na cruz sangrenta da crise, reformados e pensionistas,
desempregados e pobres, alguns pequenos espinhos para os mais ricos.
É evidente que acredito nas razões invocadas
pelo primeiro-ministro: a baixa dos juros dos empréstimos, a ida, sozinhos, aos
mercados, obtendo bons juros, o crédito do país no exterior, o olhar mais
favorável da Europa, há reservas financeiras para este ano e uma almofada de 15
mil milhões para o ano que vem, colocando o
país ao abrigo de “qualquer perturbação externa”. Ou interna, com o
Tribunal Constitucional a chumbar medida (até a UE tem medo do TC..)
Todavia,
tenham todos a noção de que os apertos não acabaram. Não, mas é melhor do que
morrer o país na praia, isto é, com as suas sua gentes trituradas por mais
cortes. Ainda vão aumentar o IVA, a TSU, não muito, mas mais medida abrangente
e mais qualquer coisinha que andará na sua manga. A primeira etapa desta
corrida contra o tempo estará ganha, à custa de muito sangue e lágrimas nossas,
mas virá outra, a da recuperação da esperança e do emprego, a continuação da
reforma do Estado, sempre sob a vigilância dos credores.
A Troika vai embora,
mas duas vezes por ano irá passar por aqui alguém a cheirar os passos dados e o
cumprimento ou não da Carta de Intenções que obrigou o governo a assinar. Cá
por coisas. Não vá o diabo tecê-las…
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 8 de Maio de 2014