segunda-feira, 7 de outubro de 2013

UMA PERGUNTA ESTÚPIDA

Às vezes não há como uma pergunta estúpida para obter uma resposta inteligente.

Aqui há uns anos, em conversa com o António Portela, perguntei-lhe se mudaria alguma decisão relevante, caso pudesse viajar no tempo até ao passado. 

Ele só precisou de alguns segundos para me surpreender, dizendo que provavelmente escolheria cursar Psicologia, em vez de Economia, e explicou porquê.

Como presidente-executivo da farmacêutica Bial, a quarta empresa portuguesa que mais investe em investigação e desenvolvimento, sentia que ainda poderia ser melhor gestor se tivesse aproveitado a Universidade para se apetrechar com conhecimentos teóricos sobre como liderar, motivar e tirar partido dos seus colaboradores.


Além de sermos todos diferentes, podemos ser muito complicados e a complexidade aumenta exponencialmente quando inseridos num ambiente de trabalho intenso e competitivo. É preciso muita arte e saber para lidar com os nossos egos, fraquezas, teimosias, ambições, vaidades, inseguranças, invejas, paixões, ódios e ciúmes.



Futebolistas como Derlei, Nuno Valente ou Paulo Ferreira, sempre os houve por aí, quase ao pontapé. Mas raros são os treinadores como José Mourinho, capazes de os motivar e espremer todas as qualidades que têm mais as que ninguém (nem eles próprios) sonhava que tinham, ao ponto de fazer deles campeões europeus. É por essas e por outras que lhe chamam Special One e ganha 14 milhões de euros/ano.



Portela licenciou-se em Economia, Mourinho tem o curso de treinador, mas ambos sabem que para triunfar na vida nunca se pode deixar de aprender - aprender a pensar, a trabalhar, a estudar e a lidar com os outros. O sucesso deles deve-se a serem autodidatas na aprendizagem de Psicologia.



Eu fiz História, e não me arrependo. Não tenho dúvida de que seria pior jornalista se não tivesse aprendido, na FLUP, a relacionar factos políticos, económicos, sociais e culturais, bem como a ler os sinais dos tempos e a interpretar as movimentações de uma comunidade.



Ao fim e ao cabo, neste mundo em que a atenção humana é o fator escasso e em que vivemos soterrados por uma overdose de informação, o que se pede ao jornalista é que seja um historiador do quotidiano, ensaiando sínteses interpretativas, organizando e hierarquizando a informação, dando pistas que ajudem a perceber por que é que as coisas acontecem - e não temendo fazer perguntas estúpidas.



Na esperança de obter uma resposta inteligente, deixo aqui uma pergunta estúpida aos funcionários públicos que recusam a semana de trabalho de 40 horas.



Vocês não podem ser despedidos, ganham mais e têm mais férias e melhor assistência na saúde do que os outros trabalhadores. São pouco produtivos (64,5 para uma média europeia de 100 e 107,9 dos espanhóis). Têm um patrão falido que anda de mão estendida, em Bruxelas, Washington e Berlim, a pedir dinheiro emprestado para vos pagar os salários. 



Por que é que teimam em querer trabalhar menos que os outros, num sinal incrível de falta de respeito pelo milhão de portugueses desempregados?



Retirada daqui