NÃO HÁ FRUTO
Era uma vez um arbusto, a crescer para árvore.
Não era uma árvore de fruto.
Isso é que a desgostava, porque ela tinha um sonho: queria dar. Fossem cerejas, maçãs, laranjas, nozes, limões, fosse o que fosse. Esta arvorezinha tinha o gosto de dar prendas. Mas o quê, se não dispunha de prendas para oferecer?
- Tu que dás? - perguntou a árvore.
- Dou leite - respondeu a vaca.
Depois, parou uma ovelha.
- Tu que dás? - perguntou a árvore.
- Dou lã - respondeu a ovelha.
Depois, parou um porquinho.
- Tu que dás? - perguntou a árvore.
- Dou tudo - respondeu o porco.
Não julguem que dizia isto com ar resignado e triste, a pensar na salgadeira. Dizia até com bastante orgulho. Os porcos sabem que são muito úteis.
- Só eu sou uma inútil - queixava-se a árvore.
A vaca, a ovelha e o porco, sentados a descansar, junto à árvore, não eram da mesma opinião.
- Tu dás imenso e sem regatear a todos os que por ti passam - disse um deles.
A árvore não queria acreditar:
- O que é que eu dou, coitadinha?
- Dás sombra - disseram os três animais, em coro - És fundamental.
Daí para diante, a arvorezinha cresceu mais feliz.
António Torrado e Cristina Malaquias, aqui