terça-feira, 23 de julho de 2013

ERA UMA VEZ...


NÃO HÁ FRUTO
Era uma vez um arbusto, a crescer para árvore

Não era uma árvore de fruto. 

Isso é que a desgostava, porque ela tinha um sonho: queria dar. Fossem cerejas, maçãs, laranjas, nozes, limões, fosse o que fosse. Esta arvorezinha tinha o gosto de dar prendas. Mas o quê, se não dispunha de prendas para oferecer? 

Parou à beira dela uma vaca. 
- Tu que dás? - perguntou a árvore. 
- Dou leite - respondeu a vaca. 

Depois, parou uma ovelha. 
- Tu que dás? - perguntou a árvore. 
- Dou lã - respondeu a ovelha. 

Depois, parou um porquinho. 
- Tu que dás? - perguntou a árvore. 
- Dou tudo - respondeu o porco. 

Não julguem que dizia isto com ar resignado e triste, a pensar na salgadeira. Dizia até com bastante orgulho. Os porcos sabem que são muito úteis. 
- Só eu sou uma inútil - queixava-se a árvore. 

A vaca, a ovelha e o porco, sentados a descansar, junto à árvore, não eram da mesma opinião. 
- Tu dás imenso e sem regatear a todos os que por ti passam - disse um deles. 

A árvore não queria acreditar: 
- O que é que eu dou, coitadinha? 
- Dás sombra - disseram os três animais, em coro - És fundamental. 

Daí para diante, a arvorezinha cresceu mais feliz.


António Torrado e Cristina Malaquias, aqui