segunda-feira, 18 de março de 2013

PARA QUE SE CRIA UM FILHO?

Os sacrifícios só têm razão de ser e não levam à desistência se dispuserem de boa explicação prévia e acabarem por atingir o objetivo definido

Houve um tempo, não muito distante assim, no qual os pais passavam privações e se esfalfavam na labuta do dia-a-dia para colocarem os filhos nas melhores universidades baseados num desígnio: dotá-los do saber indispensável para serem enquadráveis pela via do saber num competitivo mercado de trabalho. 

Hoje não é assim. As famílias investem na formação dos mais novos mas só têm como ricochete o sobressalto, o engrossar da fileira de desempregados. E é fácil adivinhar a pergunta sacramental, feita em voz baixa: fazem sentido as privações? Pululam os corações descoroçoados.

Os pais são um microcosmos do todo nacional. E nunca como agora a conjuntura geral teve tantas semelhanças.

Após o ilusionismo da vida fácil das últimas décadas, promovida por um poder irresponsável e a sofrer de eleitoralite aguda, o país caiu na bancarrota e só pela via de um ajustamento baseado em sacrifícios recuperará o curso da autonomia e a independência dos credores. O receituário implicava sofrimento mas, simultaneamente, sinais de esperança.

Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes. Isto é: após sete avaliações ao projetado plano de recuperação no qual os executores internos - leia-se Governo - apresentaram-sesempre gananciosos e identificados com o receituário para a recuperação, eis que o país estremece. Chocado.

Nos últimos quase dois anos, sacrifício atrás de sacrifício, os portugueses foram abnegados. Mantiveram postura exemplar, não obstante o acentuado empobrecimento e a substituição de um Estado de bem por outro malfeitor, incapaz de honrar compromissos. Mas estão a acumular descrença a descrença....

A austeridade imposta redundou, até agora, apenas num repositório de desgraças e de reformatação, sempre para pior, de todas as previsões. A troika teima e teima; o Governo segue-a, obediente, com o primeiro-ministro e o ministro das Finanças incapazes de reivindicar a mudança de agulha ou, então, de pedirem perdão. Passos Coelho e Vítor Gaspar são obstinados e arriscam-se a que deles não reze a história por boas razões.

Quase dois anos após José Sócrates ter anunciado a falência do país, a que se assiste? 

Agravamento permanente da situação nacional. Mais falências e consequente desemprego, mais dívida pública e privada, mais défice, mais recessão, menos consumo público e privado e por aí fora. Um flop completo!

O endurecimento dos sacrifícios corresponde a cada vez maior desgraça.

Como se sai daqui?

A chamada pergunta de um milhão de dólares tem vários pretendentes à resposta por teorias muito sonoras mas de nenhum substrato.

Exausto, descrente, o povo está farto. A sondagem da Universidade Católica publicada pelo JN na última sexta-feira é exemplar: os partidos do Governo disseram há muito adeus à maioria absoluta, caíram como tordos na confiança dos portugueses há muito, mas a oposição também não vale um chavo alternativo.

Vivemos, enfim, uma quadratura do círculo que não augura nada de bom.

Retirada daqui