O Governo fala muito em exportações.
Compreende-se.
Não há quase nada de bom
para falar, nem sequer a queda dos juros dos títulos da dívida é 100%
recomendável: estão a cair, é verdade, é muito bom, é excelente, é promissor,
mas podem voltar a disparar a qualquer momento.
A nuvem não desapareceu, anda por aqui. A procura interna está de rastos,
cairá pelo menos 17% entre 2009 e 2013. No mesmo período, o investimento cairá
36%. Nunca na história recente de Portugal o investimento se despenhou tanto e
tão depressa. O dinheiro sumiu-se, foi-se, desapareceu. Não há crédito, exceto
para as grandes empresas - e, mesmo esse, caríssimo. Não há consumo, não há
expectativas, não há confiança, o desemprego vai loucamente a caminho dos 17%.
Não há negócio que aguente ou que possa nascer neste ambiente de permanente
hostilidade fiscal.
A palavra empreendedor deve, aliás, ser retirada do dicionário. Caiu em
desuso. É um conceito zombie. As estatísticas revelam que, depois do mergulho
dos bens duradouros (casas, carros, eletrodomésticos...), nos últimos meses os
bens essenciais também entraram em plano inclinado. Chama-se a isto colapso
económico, já não é ajustamento nenhum.
É por isso, dizia eu, que o Governo fala
tanto no milagre das exportações e dos "bens transacionáveis". Na verdade,
falava. Daqui para a frente terá de falar menos ou, pelo menos, com mais
cuidado. O Banco de Portugal avisou anteontem: em 2012, a procura externa sobre
os produtos portugueses estagnou (apenas mais 2% face a 2011) e este ano, na
melhor das hipóteses, vai ser igual, já que a Zona Euro está tecnicamente em
recessão, o que significa que Portugal enfrentará mais concorrência dos
parceiros da UE para vender nos mercados extracomunitários.
Tecnicamente, portanto será assim. Aliás, será pior. Não é apenas no imediato
que o País vai sofrer. A redução do investimento, os tais chocantes menos 36%,
tem a prazo outra consequência profunda. Está escrito no relatório do Banco de
Portugal: esta quebra terá implicações "sobre a capacidade de incorporação de
progresso técnico e, em última análise, sobre o crescimento do produto
potencial".
Significa isto que sem dinheiro para investir - por exemplo, em
tecnologia - as empresas não se modernizam, atrasam-se, tornam-se menos
produtivas, menos competitivas e perdem mercado. Deixámos de ter PIB, agora
temos pibinho.
André Macedo, aqui