terça-feira, 22 de janeiro de 2013

NINGUÉM É SEMPRE PERFEITO

No tempo em que ainda não havia luz eléctrica, mas pouco faltava, quem quisesse trabalhar ou ler depois do Sol posto alumiava-se com candeeiros de petróleo. 

Os mais pobres, sem dinheiro para o petróleo, usavam velas de sebo. 


Era o caso do poeta da nossa história. Estava ele, à noite, a escrever uns versos, iluminado apenas pela luz do luar e pela chama incerta de uma velinha a finar-se, quando uma nuvem interceptou a luz da Lua. 
- Ai! - lamentou-se o poeta. - Não tarda que a vela acabe. Como vou eu conseguir terminar o poema? 

Abriu a janela e gritou: 
- Vento, se és meu amigo, afasta a nuvem, para que o luar volte a iluminar-me. 

O vento terá ouvido o pedido e rodopiou numa súbita ventania. Tanta foi que soprou a vela do poeta. Ficou o pobre às escuras. 
- Vento, tu não percebeste o que te pedi - irritou-se o poeta. - És um desastrado. 

Do céu carregado de nuvens começou a cair uma valente chuvada. 
- Pronto. Não precisas de chorar. Ninguém é sempre perfeito - disse o poeta ao vento. 

Fechou a janela e, resignado, foi para a cama às apalpadelas. Ficou o poema em meio. 

Não se perdia grande coisa, que o poema valia pouco. Ninguém é sempre perfeito...


António Torrado e Cristina Malaquias, aqui