sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

É FÁCIL SER FORTE COM OS FRACOS...


Dissiparam-se as dúvidas

O presidente da República promulgou a Lei sobre a Reorganização Administrativa do Território das Freguesias viabilizada pela maioria PSD-CDS na Assembleia da República e assim se encurta em 1165 (das 4259) o número de freguesias no país após um debate apaixonado de vários meses e através do qual todos os estados de espírito trespassaram a discussão: dos mais razoáveis aos mais demagógicos - todos, curiosamente, parecendo fazer a defesa da vivência microcósmica das populações.

Correndo embora o risco de pecar por defeitos inerentes a algumas decisões tomadas a régua e esquadro, a redução de freguesias contém um elemento histórico: foram precisos 150 anos para em Portugal se proceder a uma reforma administrativa. Imperfeita, com certeza, mas também minimalista.

Sim, graças à carolice e apego ao rincão limitado de milhares de autarcas, dispuseram sempre as freguesias de imensas virtudes na construção de um país mais habitável - e também mais solidário. Potenciar ainda mais melhorias, pela via do ganho de escala, não se faz no entanto pela extinção de postos de representação política paga quase ao cêntimo, ao contrário da ideia por muitos propagada.

Em linguagem popular, e por paradoxal que pareça: a redução do número de freguesias é uma mera "cócega" estrutural num quadro administrativo pesado e pouco funcional. O mérito de avançar é tanto menor quanto se fica com a ideia de se limitar a uma mera operação cosmética incapaz de modificar algo de relevante.

O poder de influência das freguesias, política mas não só, foi sempre pouco relevante. Esteve sempre, pois, mais a jeito de figurar como bandeira de uma reforma.

O quinhão de enquistamentos do Poder Local pertence bem mais ao excesso de autarquias e de regabofe patrocinado por muitas. Os desequilíbrios económico-financeiros, as decisões estapafúrdias e o fintar das leis, incluindo-se nesse movimento a satisfação de clientelas, são muitíssimo mais determinantes ao nível das câmaras municipais. E se é verdade estar o Governo a apertar o garrote do controlo, o certo é não ter sido capaz, até agora, de propor extinção e fusão de algumas. Os senhores autarcas dispõem de uma capacidade de lóbi muitíssimo superior à dos carolas das freguesias e resistem, resistem......

Quando no cone de fogo de todo o debate público está a reforma (ou refundação?) do Estado, o minimalismo das mudanças no Poder Local deve-nos deixar de pulga atrás da orelha. É fácil ser forte com os fracos e fraco com os fortes. E não é preciso ser bruxo para adivinhar o essencial das próximas equações para o emagrecimento do Estado...

Retirada daqui