domingo, 20 de janeiro de 2013

BONECO DE PLASTICINA


Vai para aí uma barulheira infernal

Causa: um relatório encomendado a técnicos do FMI, especialistas em cortes cegos em casa alheia cuja história mal conhecem, onde os seus governantes, hoje emigrantes de luxo, foram insensatos e loucos. 

Foi um relatório surpresa, anunciado primeiro pela imprensa do que pelo governo. 

Lamentável. Tudo no maior segredo, para esconder medidas de deixar tudo banzado. Incluindo a oposição que o governo, por falta de bom senso ou arrogância, deixa sempre de fora e, depois de lançada a lebre, clama ajuda para o diálogo e estratégia para amaciar o bicho. O povo, esse, cada vez se sente mais boneco, de plasticina. Come sempre pela medida grossa. Não conta.

Quem veio anunciar o estudo, feito sobre elementos de 2003 e 2010, foi  Carlos Moedas, sorriso cínico entre dentes. Entre o eufórico e o insensato, disse que estava bem feito, à medida das nossas precisões. Mas na verdade o que o país precisava era de ter menos e melhores deputados, menos e melhores políticos, mais capazes, honestos e sérios. Depois, aliviando a corda, Passos veio tentar acalmar os que assarapantados andam com tão gravosas receitas, muito mais do mesmo, dizendo que o relatório não será bíblia da reforma do Estado. 

Nem tão pouco o governo alguma vez foi bom profeta, mensageiro da salvação. Vivemos à beira do inferno. Enquanto o PS, que também não diz claramente o que faria, recusa fazer parte da Comissão de cortes para a refundação do Estado, que deveria mobilizar todos e levar o tempo necessário. Assunto viciado à nascença, só pode dar em fiasco. Mais um. Reforma do Estado (ou apenas aprovação de mais pesados cortes)?, feita à pressa, só pode dar asneira grossa. Quem paga? O povo.

À crise financeira, a que se junta uma data de trapaceiros e gente incapaz de fazer direito, incluindo Aníbal, não tardará a crise política para dar cabo do resto. Se os partidos do arco do poder não se sentarem com seriedade à mesa e dialogarem, olhos nos olhos.
A tudo isto se juntam os clamores junto do Tribunal Constitucional por via de algumas medidas drásticas do Orçamento. 

Esperamos que algumas não sejam inconstitucionais apenas porque mexem com a barriga cheia dos grandes.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 17 de Janeiro de 2013