sábado, 3 de novembro de 2012

A SENTE.


Ela estava capaz de. De vez em quando sentia-se assim.

Um dia mais devagar que outro.  Com mais paz. Ciência ou impasse.  

De vez em quando era como se hoje já devesse ter sido ontem.

Um passo amargo demora pouco e galga muito cá dentro. Ela sabia disso.

Precisava de levantar os pés do chão. Outra vez . De assentar a cabeça.  

Para isso é preciso calma de dentro e passo rápido e seguro. Nada de impasse. Só ciência.

Um campo qualquer com espaço para descolar as mágoas. Um canto qualquer onde pousar a voz. Um sítio assim em lugares daqueles que não existem quando só olhamos para eles.

Ela sabia que há fracturas expostas capazes de fazer menos mal que entorses de alma.

As feridas de dentro custam mais a sarar. Porque o sol não as consegue ver e só se mostram à noite escura.  Queria outra vez.  E as que fossem precisas para chegar ao lugar onde não nos falta mais nada.

Precisava disso para ontem. Hoje ainda é cedo.
 
O tempo  era ali. Aqui agora. O vento ia e vinha e as marés também e ela já lhes adivinhava o ritmo. Estava capaz de apanhar boleia outra vez quando se voltasse a encontar.

De vez em quando era como se hoje já fosse amanhã. E o azul madrugada parecia-lhe bom para descolar do ontem que doía por dentro.

Entretanto ia virar-se do avesso. Miolo à vista. Cicatrizar tudo de uma assentada e depois levantar-se e partir.

Precisava disso ontem. Hoje ainda é cedo.

Amanhã partimos.

Cristina Gameiro
, aqui