quarta-feira, 16 de outubro de 2013

TOPONÍMIA E PANTONÍMIA

Concluídas as eleições autárquicas, está ainda por fazer um balanço global dos efeitos da reorganização administrativa das freguesias

É sobre o aspecto toponímico dessa reforma que as próximas linhas se debruçam. Antes de mais, importa sublinhar uma evidência. Se é crescente o número de portugueses que vive em união de facto, a verdade é que é agora muito maior o de cidadãos que vive em união de freguesias. 

Ora isto, só por si, pode levantar um conjunto de dificuldades. Repare-se que, com a tendência para simplificar e adoptar a lei do menor esforço de muitos dos compatriotas, não tardará que certas conversas se tornem perfeitamente atoleimadas. 

Álvaro e Lucílio, admitamos que algarvio um e transmontano o outro, poderão terminar um encontro fortuito em Lisboa convencidinhos que são vizinhos sem o serem: Então onde é que moras? Ai eu moro em União de Freguesias. Ah que coincidência, eu também. Eh pá, que estranho, nunca te vi por lá. Pois, eu também não. Então vá, vou indo… a ver se nos encontramos lá em União de Freguesias

Por outro lado, o papel do topónimo como elemento expedito de identificação ficou, em muitos casos, gravemente prejudicado. Tome-se por exemplo a situação de um qualquer residente na União das Freguesias de Vidago, Arcossó, Selhariz e Vilarinho das Paranheiras. Quem é que, no seu perfeito juízo, perguntado sobre o local onde reside, responderá ah, eu resido na União das Freguesias de Vidago, Arcossó, Selhariz e Vilarinho das Paranheiras? Isto não é um nome de um local, por amor de Deus. Maior só mesma a lista de cargos ocupados por Rui Machete antes de ir para o governo. Mais parece uma ladainha. 

Estou mesmo convencido que os padres em lugar de mandarem rezar avémarias ordenarão agora, por penitência, que os pecadores rezem uniões de freguesias. Ai disseste palavrões? Três uniões de freguesias. Um par de estalos no sogro? Sete uniões de freguesias. Roubaste a caixa de esmolas? Trinta e nove uniões de freguesias. Para ser assim, convenhamos, mais vale um tipo dizer as coordenadas GPS do sítio onde mora e sempre perde menos tempo. Adiante. Haverá então coisas que correram menos bem? Há, de facto. Não passa pela cabeça de ninguém, por exemplo, juntar na mesma freguesia Chamusca e Pinheiro Grande. É brincar com o fogo. 

Da mesma forma, não parece muito aconselhável juntar Jolda com Rio Cabrão. Ou Ancas com Paredes do Bairro. Também não é de bom tom colocar Rio de Moinhos e Cafede na mesma união de freguesias. Cafede junto a Rio de Moinhos cheira mal. Depois, há coisas que causam alguma perplexidade. Quando se une Freixo de Baixo com Freixo de Cima, em que é que ficamos? No meio? Há também contradições insanáveis. 

Em Castelo de Paiva, por exemplo, Raiva e Pedorido complementam-se bem. Um tipo pode imaginar-se a ficar com o Pedorido depois de dar uns pontapés num acesso de Raiva. O que não se percebe é o que é que Paraíso está a fazer numa freguesia que já tem Raiva e Pedorido. Creio que para dissonância cognitiva já tínhamos suficiente com Passos Coelho e Portas no mesmo governo. Mal comparado, é um pouco o que também se passa em Esposende onde juntaram Fonte Boa com Rio Tinto. 

Perplexidade causa também a União de Freguesias de Mealhada, Ventosa do Bairro e Antes. A última, por definição, deveria surgir antes e não depois de Mealhada e Ventosa do Bairro. É claro que em certos casos houve o cuidado de evitar situações embaraçosas. Em Celorico de Basto, por exemplo, Gémeos e Gagos podiam ter ficado na mesma freguesia. Mas não ficaram. E ainda bem. E também parece correcto juntar Gavião e Atalaia. Menos acertado foi colocar Cepões, Meijinhos e Melcões na mesma freguesia. No meio de Cepões e Melcões, é óbvio que os de Meijinhos não se safam. O certo é que aqui e ali caímos em redundâncias e exageros. 

Em Oliveira do Bairro não havia necessidade de juntar Bustos com Mamarrosa

E em Barcelos, nos tempos que correm, com tanta dificuldade, e depois de um verão tão quente, é quase ofensivo pensar que há gente que vive no resultado da União de Vila Boa com Vila Frescainha. Bem mais adequada aos dias que vivemos foi a opção de juntar Magrelos e Bem Viver. Entretanto, mais a sul, era motivo de grande expectativa saber quem ficaria com a Coina. Algumas das possibilidades de que se chegou a falar foram descartadas. 

Nabo, para não irmos mais longe, continua em Vila Flor. E Paião uniu-se à Borda do Campo que fica mesmo ali ao lado de Alhadas. Chegou ainda a estar sobre a mesa a possibilidade de a Coina ficar com Santo António. Da Charneca. Depois, lá prevaleceu o bom senso e acabou por unir-se a Palhais. 

Para dizer tudo, foi exactamente esse bom senso que faltou quando se decidiu juntar Ana Loura e S. Lourenço de Mamporcão.

Rui Rocha, aqui