As polémicas em redor de livros que versam sobre a religião não são recentes. Por estas semanas, apenas para citar um exemplo actual, um romance escrito por um apresentador televisivo tem feito brado por, alegadamente, conter afirmações difamatórias para a instituição católica.
Estranhamente, um livro mais contundente e assertivo tem passado despercebido, no que só pode ser entendido como mais uma das perversões do mercado editorial.
As diferenças entre ambas as propostas são por demais notórias: para começar, Philip Pullman é escritor e não um mero replicador de pseudo-teses alheias, o que não é uma vantagem de somenos. Depois, o escritor inglês, apesar de ter estudado a fundo o assunto em causa, não assumiu a pretensão de ter entre mãos uma descoberta extraordinária, evitando o ridículo de exibir uma mão cheia de nada.
A premissa do autor de A torre dos anjos é simples: Jesus e Cristo seriam dois irmãos gémeos separados em quase tudo. Enquanto o primeiro é um orador nato, imbuído de uma franca vontade de alertar as multidões sobre a iminência da chegada do reino de Deus, Cristo é o oposto: desconfiado e astuto, vive na sombra do irmão, cujo carisma natural faz recair sobre si a totalidade das atenções.
É nesta altura que o enjeitado irmão acaba por ser contactado por um enviado misterioso que lhe propõe adornar as deambulações de Jesus com o objectivo de edificar as fundações de uma futura Igreja.
A oposição feroz de Jesus a esta possibilidade (“montar um espectáculo sensacionalista para os crédulos” é como define a tentativa de persuasão feita por Cristo) leva a que o seu irmão o siga à socapa, ampliando os seus feitos.
É na visão alternativa que propõe sobre a História que Jesus o bom e Cristo o patife mais se destaca, ao constituir uma espécie de manual instrutório de explicação de possíveis mitos e lendas.
(Sérgio Almeida)
TÍTULO: Jesus o bom e Cristo o patife
AUTOR: Philip Pullman
EDITOR: Teorema
PREÇO: 15.90 euros
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