O primeiro-ministro passou à chantagem com o PS. Se não houver entendimento com os socialistas para a reforma do Estado há segundo pacote de resgaste.
Parece o PEC IV de Sócrates. Não é difícil adivinhar o que poderá acontecer. O PS vai rejeitar o ultimato de Passos. O primeiro-ministro vai tentar passar o ónus para o PS. Passos pode chegar a demitir-se. Tal e qual como fez Sócrates.
Chega de brincadeira. Com este jogo súbito da refundação do memorando ( numa parada altíssima) Passos tropeçou na sua própria sofisticação e colocou a nu as suas fraquezas.
Que andou este homem a fazer ano e meio para além de cortar subsídios e aumentar impostos? Podia ter ele feito a reforma do Estado que está inscrita no memorando (como a redução em metade dos concelhos). A reforma que, avaliação após avaliação, a troika tentou que ele fizesse. Nem a Constituição era impedimento, como agora reconhece Passos. Então se não era, porque não fez as reformas sozinho com o seu governo de maioria?
Passos tentou convencer-nos que era o redentor de Portugal. O que ficou hoje a nu? Num momento de gravidade extrema, um dos piores da história do país, trabalhou para a pura chincana política borrifando-se nos interesses do Estado.
Cavaco Silva devia colocar fim a este regabofe. Está em causa o regular funcionamento das instituições? Pode estar? Portugal não perdeu ano e meio da sua vida? Não se afundou mais nas medidas de Passos? Não está a caminho de um segundo resgate, como o próprio reconheceu?
Incrivelmente, com este puro jogo político, Passos põe também em causa o próprio Orçamento de Estado para 2013. Que solidez e credibilidade tem este primeiro-ministro para o aplicar?
Seria perigosa a demissão de Passos, com um OE em cima da mesa? Talvez não fosse.
A Troika poderia compreender porque deve estar com Passos pelos cabelos.
É preciso lembrar que a Grécia viveu um engulho muito pior com uma eleição legislativa a seguir à outra porque os maiores partidos não se conseguiam entender para formar Governo. E a troika não pareceu então muito preocupada.
Por último, já tivemos uma experiência de queda de um Governo com um Orçamento pronto para ser aprovado. Com Santana Lopes em 30 de Novembro de 2004.
Paulo Gaião, aqui