domingo, 23 de setembro de 2012

E AGORA?


Sabemos hoje, sem qualquer margem para dúvidas, que o Presidente da República trabalhou exemplarmente e conseguiu rebobinar o filme até ao ponto em que ainda é possível fazer com que tenha um final feliz

O risco reside no facto de os principais actores serem os mesmos e haver partes do guião que estão ainda mal definidas.

Podemos confiar numa coligação em que os parceiros não podem confiar um no outro? O Conselho de Estado pode fazer de conta que acredita, como fazem de conta PSD e CDS, que a criação de um Conselho de Coordenação da Coligação é uma esponja que apaga a forma irresponsável como Paulo Portas quase derrubou o Governo, mas nós sabemos que há formas de cancro que nem com quimioterapia se vencem.

O poder político acreditou que a lógica de Bloco Central (ora agora ganhas tu, ora agora ganho eu) era imutável e com isso pode ter destruído um amplo consenso social que existia a favor do necessário ajustamento económico e financeiro. As coisas já não se jogam apenas na alternativa PSD ou PS. Sair à rua contra os partidos e contra os políticos pode virar moda e a rua é facilmente influenciada por populismos e interesses obscuros.

Neste momento onde reside o poder? É em Belém? Em São Bento? Na Concertação Social? Na rua? A política tem horror do vazio e a economia vive mal com a incerteza. Cavaco Silva provou que tinha o estofo necessário para ser o mais alto magistrado da Nação, mas não pode dormir descansado depois do notável trabalho que realizou. Não pode voltar a correr o risco de ter nas mãos uma bomba pronta a detonar, porque nessa altura pode ser o fim deste filme. E a crise será muito mais grave.

Caiu uma medida (TSU) que a generalidade dos actores políticos e a maioria dos portugueses consideravam altamente injusta, mas a austeridade tem de prosseguir. O Governo continua a precisar de resolver o veto do Tribunal Constitucional para arrecadar em 2013 os dois mil milhões de euros que este ano conseguiu com o confisco de dois subsídios aos funcionários públicos e pensionistas. E precisa de mais uns milhares de milhões para tapar o buraco orçamental que continua a existir. E ainda tem de encontrar dinheiro para promover o crescimento e o emprego.

E agora? Haverá tempo para o Governo preparar um novo Orçamento até 15 de Outubro? Serão os parceiros sociais verdadeiramente competentes para ajudar o Governo a encontrar alterações à TSU? O Governo vai esperar por eles ou as alternativas que Portas diz ter apresentado vão avançar? E o PS que era contra a TSU também vai recuar e regressar ao consenso político pedido pelos conselheiros de Estado?

Agora, senhor Presidente da República, não poderá ter descanso. A Democracia em Portugal vive um momento muito perigoso.

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

Paulo Baldaia, aqui