Sabemos hoje, sem qualquer margem para dúvidas, que o Presidente da República
trabalhou exemplarmente e conseguiu rebobinar o filme até ao ponto em que ainda
é possível fazer com que tenha um final feliz.
O risco reside no facto de os
principais actores serem os mesmos e haver partes do guião que estão ainda mal
definidas.
O poder político acreditou que a lógica de Bloco Central (ora agora ganhas
tu, ora agora ganho eu) era imutável e com isso pode ter destruído um amplo
consenso social que existia a favor do necessário ajustamento económico e
financeiro. As coisas já não se jogam apenas na alternativa PSD ou PS. Sair à
rua contra os partidos e contra os políticos pode virar moda e a rua é
facilmente influenciada por populismos e interesses obscuros.
Neste momento onde reside o poder? É em Belém? Em São Bento? Na Concertação
Social? Na rua? A política tem horror do vazio e a economia vive mal com a
incerteza. Cavaco Silva provou que tinha o estofo necessário para ser o mais
alto magistrado da Nação, mas não pode dormir descansado depois do notável
trabalho que realizou. Não pode voltar a correr o risco de ter nas mãos uma
bomba pronta a detonar, porque nessa altura pode ser o fim deste filme. E a
crise será muito mais grave.
Caiu uma medida (TSU) que a generalidade dos actores políticos e a maioria
dos portugueses consideravam altamente injusta, mas a austeridade tem de
prosseguir. O Governo continua a precisar de resolver o veto do Tribunal
Constitucional para arrecadar em 2013 os dois mil milhões de euros que este ano
conseguiu com o confisco de dois subsídios aos funcionários públicos e
pensionistas. E precisa de mais uns milhares de milhões para tapar o buraco
orçamental que continua a existir. E ainda tem de encontrar dinheiro para
promover o crescimento e o emprego.
E agora? Haverá tempo para o Governo preparar um novo Orçamento até 15 de
Outubro? Serão os parceiros sociais verdadeiramente competentes para ajudar o
Governo a encontrar alterações à TSU? O Governo vai esperar por eles ou as
alternativas que Portas diz ter apresentado vão avançar? E o PS que era contra a
TSU também vai recuar e regressar ao consenso político pedido pelos conselheiros
de Estado?
Agora, senhor Presidente da República, não poderá ter descanso. A Democracia
em Portugal vive um momento muito perigoso.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo
Ortográfico
Paulo Baldaia, aqui