quinta-feira, 26 de julho de 2012

FILHOS DA NAÇÃO

Portugal não é apenas um país que não produz para comer e, enquanto isso não acontecer, será sempre um pais adiado, deficitário e devedor ao estrangeiro.

É também uma nação a envelhecer; digamo-lo alto, a morrer. Nos primeiros seis meses deste ano nasceram menos 4009 crianças do que no mesmo período em 2011.Todos os governos se preocupam com a crise financeira, para a qual não encontram remédio eficaz, ainda que cavalar.

Ninguém se preocupa com o défice de natalidade. As medidas de incentivo ao fenómeno da natalidade são muito escassas. Ao contrário das medidas de protecção ao aborto, uma vergonha. Até agora, a interrupção voluntária da gravidez era equiparada em termos de direitos médicos à maternidade (consultas gratuitas e subsídios de maternidade). Paradoxos à portuguesa.

Os deputados, cujo número deveria ser reduzido, sempre era uma poupança, têm sido mais ágeis na aprovação de leis que ajudam a destruturar as famílias.

A fecundidade é baixa como nunca, a mais baixa de toda a Europa e uma das mais baixas do mundo, a mais baixa desde 1960, e tende a bater novos recordes, com a crise instalada. Sabe-se que a vida da mulher no mundo laboral cria algumas dificuldades, põe alguns problemas (e os patrões colocam outros), mas, quando a abastança poderia ser um alicerce para a estabilidade, apenas gerou mais comodismo, com gravidezes cada vez mais tardias e mais raras. Há casas enormes, mas vazias de novas vidas.

O valor ideal para permitir assegurar a substituição de gerações é de 2,1 e Portugal anda quase um ponto abaixo. Esta situação não só concorre para o envelhecimento da população, como afecta o factor de sustentabilidade do sistema da Segurança Social que, se agora não preocupa os casais, eles irão ser no futuro as próximas vítimas.

Precisam-se urgentes medidas políticas de incentivo à natalidade, como alternativa ao tendencial aumento da idade de reforma. Mas parece que isso não irá acontecer tão cedo. Primeiro que tapem o buraco com a nossa carne e o nosso sangue, vai correr muita água no rio Tejo.
Uma casa com filhos e netos é uma fonte de alegria. Um país sem o abundante dom da vida, será o pior dos mundos, uma terra triste e estéril, à beira da catástrofe geracional.

Armor Pires Mota, no 'Jornal de Bairrada', de 26 de Julho de 2012