terça-feira, 1 de maio de 2012

UM PAÍS DE MARIAS E RODRIGOS

Em 2011 registou-se uma quebra na quantidade de portugueses que decidiram mudar de nome

Portugal continua a ser um país de Marias (há 5040 registadas), mas não de Josés, já que em 2011 o nome masculino mais registado foi Rodrigo, com 2541.

Apesar dos nomes invulgares que aparecem na lista de admitidos do Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) – como Aua, Ayaan, Alegria, Menina ou Petronel –, os nomes mais procurados no ano passado não causam estranheza aos portugueses (consulte aqui a lista dos permitidos e proibidos).

Mas também há quem não vivesse feliz com o nome dado pelos pais e tenha, por essa razão, recorrido ao registo civil para pedir alteração. Em 2011 registou-se uma quebra na quantidade de portugueses que decidiram mudar de nome: foram 913, menos que os 1111 que solicitaram alteração em 2010.

Segundo o IRN, já houve alguns casos caricatos, como o de um português de origem chinesa que este ano mudou o nome porque na língua de Camões significava “sim a todas as propostas”.

“O motivo mais frequente de pedido de alteração de nome próprio tem a ver com as pessoas nascidas no estrangeiro que pretendem fixar, em Portugal, o nome próprio aceite no registo civil local. É o caso, por exemplo, de Sílvia, que altera para Silvie ou de Miguel para Michel, dado que à data dos respectivos nascimentos Portugal não admitia o uso de nomes próprios estrangeiros”, explica o IRN.

Às vezes também acontece que os pais se precipitam e depois se arrependem dos nomes que dão aos filhos ou que alguém simplesmente não se identifique emocionalmente com o nome que lhe deram à nascença.

Para todos o processo é igual: fazer um requerimento solicitando a autorização para alteração de nome e invocando os motivos para tal e desembolsar 200 euros.

Três exemplos
João Lourival da Rocha Vieira e Silva nasceu apenas João. Lourival era o nome do “colega de carteira” que na escola primária lhe fez companhia durante os dois primeiros anos. Depois das férias de Natal na terceira classe não voltou.

“Era o meu colega principal, pegávamo-nos à bulha de vez em quando, mas éramos os maiores amigos. Penso que devo ter feito alguma transferência afectiva ou tive um pequeno trauma, ou coisa parecida, e a partir daí, quando me perguntavam o meu nome eu dizia João Lourival”, contou à Lusa.

Até aos 15 anos, Ima sempre acreditou que esse era o seu nome, o nome que o pai fez questão que fosse seu, tal como a personagem de banda desenhada que ele tinha criado e que resulta das três primeiras letras de imagem e imaginação.

“Eu cheguei a ser baptizada como Ima, mas no registo não foi autorizado. Nunca soube disto porque toda a gente sempre me tratou por Ima Isabel e nunca soube que o Ima não tinha sido registado. Só aos 15 anos é que o meu pai teve uma conversa comigo e me explicou o que se tinha passado”, recordou Ima Isabel.

Já Peta sempre conviveu mal com o seu nome de baptismo, Perpétua: “Sempre achei o nome muito pesado e não conhecia ninguém com esse nome. Não é que me gozassem, mas sentia-me muito constrangida com o nome”.

Para piorar a situação, na altura da sua juventude era comum ouvir na rádio os Parodiantes de Lisboa e “nas anedotas que contavam, havia sempre uma Perpétua metida no assunto”.

O nome tinha tradição familiar, vinha da avó materna, e a mãe não arriscou criar quezílias. Só que nunca ninguém a tratou por esse nome, mas sim por Peta, o diminutivo, e foi esse que identificou como seu a vida toda.


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