quinta-feira, 31 de maio de 2012

'O DIA DA ESPIGA': ESSA LOA A TANTOS CANTADA!

No dia de feriado municipal de Oliveira do Bairro vi um grande grupo de crianças, a caminharem pelas margens de campos de arroz sitos no concelho.

Ao longo do percurso a criançada viu a terra a ser trabalhada com um tractor, patos a nadarem, cegonhas a sobrevoarem os campos, rãs a coachar, lagostins nas valas à procura de alimento, flores de várias cores e pássaros a chilrear.

Numa das mãos levavam lupas, e observaram insectos e plantas; na outra mão um ramo da espiga que levaram para casa. A acompanhá-las, professoras e auxiliares.
 
A certa altura, pararam debaixo da sombra de um grande choupo, num dos parques de lazer do concelho e começaram a cantarolar uma quadra, que disseram ser tradicional, e com a qual quiseram reviver a tradição:

Se os passarinhos soubessem
que era dia da Ascensão
não comiam, não bebiam 
não punham os pés no chão.

Gostei de ver.

E de ouvir.

Eram crianças de uma localidade (Paradela), do concelho de Águeda; que desceram até ao concelho vizinho de Oliveira do Bairro comemorar o Dia da Espiga.

A essa hora, a maioria das crianças das escolas de Oliveira do Bairro estava a dormir; e à tarde devem ter ido passear para o Fórum ou para o Glicínias, em Aveiro; afinal era dia de feriado.

Mas nenhuma destas crianças sabe que no dia de feriado municipal em Oliveira do Bairro se comemora o Dia da Espiga; crianças que crescerão ignorando que um dia alguém considerou que o executivo municipal não podia ficar alheio aos anseios legítimos de uma população cujo sentimento generalizado reclamara a reposição do feriado municipal na Quinta-Feira da Ascensão.

Perpassaram-me pela mente as últimas palavras que há uns anos atrás alguém me dirigiu: que no dia de feriado municipal se levantaria ainda mais cedo e, cumprindo a tradição, iria para o campo apanhar uma espiga e outras flores silvestres, compondo um ramo simbólico da fecundidade da terra e da alegria de viver. E que de seguida mo ofereceria.

Palavras de um dos 2463 subscritores do abaixo assinado, já falecido, e que por isso mesmo já não poderá revoltar-se com o facto de não ter organizado qualquer evento que, nesta data, registasse o Dia da Espiga.