No
dia de feriado municipal de Oliveira do Bairro vi um grande grupo de crianças,
a caminharem pelas margens de campos de arroz sitos no concelho.
Ao longo do
percurso a criançada viu a terra a ser trabalhada com um tractor, patos a
nadarem, cegonhas a sobrevoarem os campos, rãs a coachar, lagostins nas valas à
procura de alimento, flores de várias cores e pássaros a chilrear.
Numa das mãos levavam lupas, e observaram insectos e plantas; na outra mão um ramo da espiga que levaram para casa. A acompanhá-las, professoras e auxiliares.
A
certa altura, pararam debaixo da sombra de um grande choupo, num dos parques de
lazer do concelho e começaram a cantarolar uma quadra, que disseram ser
tradicional, e com a qual quiseram reviver a tradição:
Se os passarinhos
soubessem
que era dia da Ascensão
não comiam, não bebiam
não punham os
pés no chão.
Gostei
de ver.
E de ouvir.
Eram crianças de uma localidade (Paradela), do concelho de Águeda; que desceram até ao concelho vizinho de Oliveira do Bairro comemorar o Dia da Espiga.
A
essa hora, a maioria das crianças das escolas de Oliveira do Bairro estava a
dormir; e à tarde devem ter ido passear para o Fórum ou para o Glicínias, em Aveiro;
afinal era dia de feriado.
Mas nenhuma destas crianças sabe que no dia de feriado municipal em Oliveira do
Bairro se comemora o Dia da Espiga; crianças que crescerão ignorando que um dia alguém considerou que o executivo municipal não podia ficar alheio aos anseios legítimos de uma população cujo sentimento generalizado reclamara a reposição do feriado municipal na Quinta-Feira da Ascensão.
Perpassaram-me
pela mente as últimas palavras que há uns anos atrás alguém me dirigiu: que no
dia de feriado municipal se levantaria ainda mais cedo e, cumprindo a tradição,
iria para o campo apanhar uma espiga e outras flores silvestres, compondo um
ramo simbólico da fecundidade da terra e da alegria de viver. E que de seguida
mo ofereceria.
Palavras de um dos 2463 subscritores do abaixo assinado, já falecido,
e que por isso mesmo já não poderá revoltar-se com o facto de não ter organizado
qualquer evento que, nesta data, registasse o Dia da Espiga.