quarta-feira, 11 de abril de 2012

GOVERNO QUER TAPAR O SOL COM A PENEIRA

Há em toda a actuação do governo um fio condutor – o segredo e o engano, como se governasse na clandestinidade e com medo de quem o elegeu.

Nos últimos dias, o governo, cuja agenda ideológica o coloca na trajectória do desastre, parece ter, finalmente, admitido a desgraça que se adivinha no fim do túnel por onde insiste em nos conduzir.

E desorientou-se, completamente. Mas, sobretudo, destruiu os frágeis pilares em que assentava o seu discurso político, com a mesma ligeireza e irresponsabilidade com que, antes, os mesmos protagonistas, chegados ao governo, destruíram o discurso com que alimentaram a campanha eleitoral.

A narrativa do primeiro-ministro, segundo a qual “regressaremos aos mercados em Setembro de 2013” ou que “não precisamos de mais dinheiro, nem de mais tempo” esboroou-se durante a semana passada. Os indicadores económicos dos primeiros meses deste ano são catastróficos, com a despesa a aumentar em relação a igual período do ano anterior, a receita a diminuir, o desemprego imparável e a economia a definhar.

Acresce que o deficit orçamental alcançado o ano passado foi artificial, à custa dos fundos de pensões da Banca. Perante o insucesso do rumo do governo, Pedro Passos Coelho admitiu o óbvio: Portugal necessita de um segundo resgate. Disse-o de forma mitigada e a um jornal alemão. No entanto, entre nós, ainda não admitiu o colapso, nem pediu desculpa aos portugueses.

Em vez disso, o governo preferiu meter os pés pelas mãos, dizer e desdizer, como quem administra o engano em pequenas doses. As trocas e baldrocas do ministro das Finanças à volta do período de suspensão dos subsídios de férias e Natal dos funcionários públicos e pensionistas são parte dessa dosagem, dessa atracção para esconder o que está à vista. Ninguém tem dúvidas que foi dito e escrito que a suspensão dos subsídios vigorava em 2012 e 2013 - o período de vigência do programa de ajustamento. Agora, veio o primeiro- -ministro anunciar que a suspensão se vai prolongar por 2014 e só em 2015 serão repostos os subsídios, mas apenas gradualmente. O que quer dizer, descodificando a linguagem governativa, que provavelmente nunca mais serão repostos. Vítor Gaspar ainda tentou, no seu tom meloso, iludir a alteração, que já faz parte do reconhecimento da necessidade de um segundo resgate. Mas sem sucesso.

O outro caso da semana passada, que faz adivinhar as novas e mais severas medidas que aí vêm, foi o secretismo com que o governo rodeou a suspensão das pensões de reforma antecipadas. A decisão, aprovada em Conselho de Ministros a 29 de Maio, foi mantida em segredo na sua tramitação, desde a promulgação pelo Presidente da República até à sua publicação na passada quinta-feira, véspera da entrada em vigor. Este secretismo, que viola o mais elementar princípio da transparência dos actos governativos, revela a enorme desconfiança deste governo nos portugueses ao esconder-lhe, até ao último minuto, uma alteração profunda com consequências graves na vida de muitas famílias.

Há em toda a actuação do governo um fio condutor – o segredo e o engano, como se governasse na clandestinidade e com medo de quem o elegeu. Mas não consegue tapar o sol com a peneira: a inevitabilidade de um segundo resgate à distância de um ano, e as novas medidas de austeridade e de maior empobrecimento que virão por acréscimo, são provas suficientes do falhanço dos “bons alunos”. Se insistirem em enganar os portugueses, vamos ter um governo cada dia mais frágil, desorientado e descredibilizado.

PS - Adensam-se os sinais de colapso da União Europeia, na sequência das políticas ditadas pela Alemanha. A Grécia não pára de se afundar desde o primeiro resgate financeiro. O ex-ministro das Finanças grego e novo presidente do partido socialista, Evangelos Venizelos, admitiu a possibilidade de o seu país necessitar de um terceiro pacote de ajuda para resolver a crise financeira. Christine Lagarde, a directora do FMI, vai mais longe e admite a hipótese da Grécia entrar em bancarrota e ter de abandonar o euro e a UE. A Espanha fará o mesmo percurso, mas antes, por este caminho, será Portugal a chegar á crista da onda.

Tomás Vasques, aqui