segunda-feira, 12 de março de 2012

RESPONSABILIZAÇÃO DE POLÍTICOS

O ex-primeiro-ministro islandês começou esta semana a ser julgado por negligência na condução do país no período que conduziu à crise financeira e social de 2008.

Geir Haarde é acusado de ter ignorado os alertas da supervisão bancária (onde já ouvi isto?) em relação à iminente crise que levou à falência os 3 principais bancos islandeses.


A Islândia tomou a decisão soberana de julgar um ex-dirigente pelos atos de governação que praticou durante o seu ministério. O parlamento local aprovou, em setembro de 2010, levar Haarde a tribunal depois de uma comissão de investigação o ter incriminado, juntamento com mais alguns seus ex-colegas, que no entanto foram despronunciados. Naturalmente que a defesa do governante afirma a sua inocência e até a sua discriminação pois entende haver outras pessoas que deveriam ser julgados em vez dele.

Mas o que verdadeiramente interessa não é o caso pessoal do ex-governante. É a primeira vez que fora de tempo de guerra na Europa, se julga um responsável político. É um ato exemplar dum pequeno País, que para além de tudo, ainda recusou pagar a dívida dos seus bancos porque considerou que ela era fundamentalmente devida a especuladores estrageiros. Não quero comparar a situação islandesa com a nossa, porque em muitos aspetos ela não é comparável, embora tenha zonas de um profunda semelhança, principalmente se virmos o escândalo BPN.

O que de facto é notável foi a coragem de se mudar uma constituição, de se responsabilizar quem com dolo ou irresponsabilidade conduziu o País para um abismo económico. Equivale, num certo sentido, a um comportamento que leva um País a um estado de penúria semelhante ao de guerra.

Fico a pensar se não é um bom exemplo para Portugal. Há muito político que fomentou despesa supérflua, como autoestradas sem movimento suficiente, estádios de futebol que agora não têm préstimo, etc. Muita obra foi feita em Portugal, quer no estado central, que nas autarquias, que apenas serviu para mostrar obra para depois ser inaugurada. Quantos centros culturais estão às moscas, piscinas encerradas, etc. Chamar à pedra quem teve estas iniciativas é no mínimo um poderoso dissuasor para desmandos futuros.

António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 8 de Março de 2012