quinta-feira, 22 de março de 2012

CHOQUE ELÉCTRICO

Nos últimos dias, a EDP, esse grande “monstro eléctrico” que cada vez nos esturra mais as migalhas, esteve ao rubro.

Tem tal força e potência que ninguém se atreve a pôr travão nos aumentos galopantes.

O primeiro, o Secretário de Estado da Energia, que quis baixar a pesada factura, foi para a rua. Demitiu-se, mas deixou um grito de alerta: a EDP anda a meter a mão nos bolsos dos portugueses, à bruta. Disse mesmo que “o Estado tem de impor o interesse público ao excessivo poder da EDP”, que tal, como os produtores, não corre riscos.

O custo da energia gasta é a menor fatia, mas a soma final é enorme, envolvendo uma série de taxas. Só 43% do valor da factura se referem a custos com as empresas produtoras de energia, que estão a receber gordos subsídios do Estado, criados por Sócrates (3.9 mil milhões de rendas), As rendas nas eólicas, na cogeração, na manutenção do equilíbrio contratual, são excessivas.

Por isso, o Secretário do Estado, queria mexer na EDP, cumprindo uma das imposições da Troika. O resultado é o que se sabe. Ninguém pode mexer no reino do Sr. Mexia que só ganha 3 mil euros por dia e mexe, sem apelo nem agravo, nos bolsos dos portugueses e na tesouraria das empresas em que a energia é o peso maior, o que não ajuda nada à tão proclamada necessidade de competitividade.
 A EDP quis mostrar aos chineses galinha gorda no negócio, e o governo, ao agir deste modo, deu o flanco, mostrou-se, mais uma vez, fraco perante interesses instalados, cedendo ao super Mexia. Alguma razão tem o PCP. Por outro lado, o Ministro da Economia, sempre tão cioso cumpridor do memorando da Troika, começa a cometer alguns pecados capitais: além das excepções nos cortes para alguns portugueses, já de si privilegiados, agora não avalizou o projecto da criação de uma tarifa para aplicar aos produtores da electricidade, e o governo travou o projecto.

Borrou a escrita, mesmo sabendo que, no próximo ano, poderá haver um agravamento na factura não inferior a 11%, uma sobrecarga insuportável para consumidores e empresas. Agora, bem pode o governo vir dizer que vai renegociar os contratos com a EDP. Já poucos acreditam.

É mais fácil continuar a ir aos bolsos dos mais fracos e desprotegidos.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 22 de Março de 2012