O elo mais fraco é um dos mais básicos programas de aborrecimento, perdão, entretenimento da televisão portuguesa: os concorrentes são genericamente muito maus e o apresentador, um tal de Pedro Granger, é habitualmente muito mau.
Lembrei-me do elo mais fraco quando, há dias, numa cerimónia pública, vi e ouvi, pela primeira vez ao vivo, o nosso ministro da Economia.
Percebe-se rapidamente que Álvaro Santos Pereira é gentil, simpático e, de certa forma, cativante, pela ingenuidade e autenticidade que, imagino, lhe são intrínsecas. O povo diria que é "um bom homem".
Mas, ato contínuo, percebe-se que, do ponto de visto político, o ministro da Economia é muito, muito tenrinho.
O sorriso com que discursa não apaga a falta de substância do que diz. A disponibilidade que mostra para responder a perguntas não apaga a manifesta dificuldade em articular respostas prontas e eficazes. Definitivamente, o fato de ministro não foi feito para aquele professor de macroeconomia.
Ver e ouvir Álvaro Santos Pereira ajuda a entender por que razão o primeiro-ministro lhe tem tirado sucessivos tapetes: o plano para dinamizar o emprego jovem foi entregue a Miguel Relvas; as privatizações e as parcerias público-privadas a António Borges; a internacionalização a Paulo Portas.
Isto é: o ministro foi paulatinamente passando à condição de amanuense do ministério da Horta Seca.
O acordo em sede de concertação social serviria de balão de oxigénio a qualquer ministro desgastado mas minimamente capaz de tirar os devidos lucros de tão importante momento. Nem isso Álvaro Santos Pereira soube fazer. Antes pelo contrário: o ministro deixou-se envolver, logo a seguir, numa mortífera polémica com o homólogo das Finanças, a propósito da gestão dos fundos comunitários.
Se a gestão estratégica dos dinheiros da Europa (os únicos que o país tem como certos e seguros) passar para a tutela de Vítor Gaspar, não vejo que condições sobram a Álvaro Santos Pereira para continuar à frente da pasta da Economia, dos Transportes, das Comunicações, do Emprego e etc..
Em bom rigor, há muito que o ministro das muitas tutelas é o elo mais fraco deste Governo. A coisa seria menos grave se estivéssemos a falar de um ministério de menor importância. Sucede que daqui resulta uma contradição insanável: não é possível ter um primeiro-ministro a jurar que da equação austeridade/crescimento nascerá um refrescado país e, ao mesmo tempo, ter um ministro da Economia que faz, apenas e só, figura de corpo presente no Governo.
Como no concurso televisivo, não tarda e Passos Coelho chama Álvaro Santos Pereira ao seu gabinete, agradece-lhe o inestimável contributo prestado a Portugal e remata: "Você é o elo mais fraco. Adeus". Para bem de Álvaro. E para o nosso.
Paulo Ferreira, aqui