sábado, 18 de junho de 2011

SOGROS DO PIOR?

Ser um banana não é coisa que se possa mudar de um dia para o outro, ou mesmo com os anos; o estado vegetal inato é permanente.

Caro Sr:

Sou casado há 16 anos e temos dois filhos com 15 e 13 anos. Gosto de pensar que somos uma família como deve de ser, damo-nos todos bem e as crianças não dão mais trabalho do que o normal. O problema surge com a minha esposa, que gosta muito de passarmos os fins de semana e as férias em casa dos pais dela. Os meus sogros são pessoas de posses e têm uma belíssima casa perto de Lisboa. Ela diz que assim passamos dois dias de descanso, sobretudo ela, e que os miúdos podem brincar na piscina no Verão e ficar à vontade numa salinha só para eles nas outras estações. O problema é que me dou muito mal com os sogros; estão sempre a desconsiderar-me porque acham que a filha podia ter casado melhor e que eu não sei fazer dinheiro, apesar de sempre ter provido para a família. O que eu gostava era de não ir a esses fins de semana, ficar sozinho em casa, não para fazer nada que não devesse mas para não ter que os aturar. Podia ir ao cinema, ver televisão, ficar em paz. Mas não tenho nenhuma desculpa para não ir e também não os quero desconsiderar nem magoar a minha esposa. Há alguma maneira de me livrar destes fretes sem ofender ninguém?

António José

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Caro António José
Você está a dizer que tem relações ásperas com os seus sogros há 16 anos e a sua mulher ainda não percebeu? Mesmo que você não se queixe, parece impossível que numa relação tão longa ela não tenha visto atitudes tão evidentes. Vocês nunca falaram sobre isso?

Se não falaram, está mais do que na altura de falar. Não há nenhuma razão para você não dizer à mãe dos seus filhos e sua companheira de tanto tempo que se sente ofendido pela maneira como o tratam. Provavelmente ela dir-lhe-á que já falou com eles sobre isso e não serviu de nada, ou que não tem coragem para lhes falar do assunto. Em ambos os casos não está a apoiá-lo e já era tempo de lhe mostrar alguma solidariedade.

Por outro lado, você certamente pode alegar que lhe apetece passar um fim de semana sozinho, na paz do Senhor. Ela que leve os filhos e que o deixe a descansar. Ou, numa outra onda, arranje programas urbanos bons para os miúdos: ir ao cinema, ao shopping, ver os aviões e os turistas no aeroporto – o que não falta são actividades culturais na cidade.

O que parece é que o António José não se sabe impor – por outras palavras, é um banana. Ora bem, ser um banana não é coisa que se possa mudar de um dia para o outro, ou mesmo com os anos; o estado vegetal inato é permanente. Qualquer outra pessoa já teria mandado os sogros dar uma volta, mais a querida filhinha com eles. Imponha-se, homem!

Em que mundo é que você anda? Já ouviu falar no divórcio? Sabe que há maridos que enchem as mulheres (e os sogros) de porrada por muito menos? Os tempos são outros, meu amigo: elas tornaram-se independentes, mas a boa notícia é que nós também.

Faça assim: mande os miúdos para a cama, ou ao shopping comprar ténis, e depois tome uma ou duas doses da sua bebida preferida, sente a sua querida esposa à sua frente e diga-lhe tudo o que lhe apetecer. Que os pais dela são uns chatos; que ela é uma chata por ser filha deles; que você não vai aturar tanta chatice nem mais um fim de semana; que se divorcia e lhe vai fazer a vida negra. Não se preocupe em exagerar ou disparatar: por uma vez na vida solte o que lhe vai na alma.

Se for um banana, ela vai torcer-lhe o braço e obrigá-lo a ajoelhar; se não for, ou ter deixado de ser, será que ela a ajoelhar e pedir desculpa. De qualquer maneira, não imagina o alívio que vai sentir.

José Couto Nogueira, aqui