segunda-feira, 6 de junho de 2011

PROGRAMAS ANTITROIKA CHUMBADOS PELO ELEITORADO

Sócrates arrastou socialistas para níveis de 1991 e PSD fica sem desculpas para falhar compromissos. Total de votos nos pequenos partidos, brancos ou nulos dava para 16 deputados.

No mundo dos números, o relato dos vencedores, vencidos ou empatados é simples e factual. PSD, CDS ganharam, PS e Bloco de Esquerda perderam, e muito. Quanto à CDU, voltou a empatar consigo mesma - mas já lá vamos.
 
O PSD, ainda com os quatro mandatos dos votantes fora de Portugal por atribuir, tem já garantidos mais deputados que PS, CDU e Bloco de Esquerda juntos, tendo conquistado mais 28 lugares que nas eleições de 2009. Os socialistas foram os grande derrotados, com menos 23 lugares, lado a lado com o Bloco de Esquerda, que viu a sua dimensão na Assembleia da República cortada a meio, de 16 deputados para oito. Uma derrota clara. Quanto ao PCP, apesar de ter recuperado um deputado em Faro - algo que não conseguia desde 1991 -, conseguiu nos resultados globais o registo do costume: desde 1991 que a CDU varia entre os 8,8% e os 7,88% sem grandes oscilações e ontem arrecadaram pouco menos de 8% e 16 mandatos, mais um do que em 2009. Já o CDS, apesar de ficar aquém dos 14% estipulados como meta optimista, consegue superar os 10,46% de 2009, reunindo a preferência de 11,74% do eleitorado, o que lhe atribuiu 24 lugares no parlamento. Juntos, PSD e CDS contam com 129 lugares, bem acima dos 116 necessários para garantir maiorias.
 
Só em Setúbal, Santarém e Leiria, o PSD conseguiu mais dois mandatos em cada distrito quando comparados com os resultados de 2009. Já em Bragança, Francisco José Viegas baptizou o distrito como o "passistão", já que o PSD venceu nos 12 concelhos, à imagem do que Cavaco Silva conseguiu. E por falar no actual Presidente da República, os resultados de ontem também recuperam outro marco dos anos 90: o Partido Socialista acabou ontem reduzido a um espaço no parlamento, que não tinha desde 1991, quando Cavaco Silva conseguiu 135 deputados contra os 72 eleitos do PS - o resultado de ontem de José Sócrates foi mesmo o pior registo do PS nos últimos 24 anos, com 28,05% dos votos. Mas, e à excepção da vitória em Bragança, Pedro Passos Coelho ficou mais perto das marcas de Durão Barroso em 2002 - os mesmos 105 deputados - do que das maiorias laranjas de outros tempos.
 
Outro resultado que merece realce foram os 17 deputados conquistados pelo PSD no Porto - mais cinco do que em 2009 -, quase todos à custa do PS, que perdeu quatro lugares na Invicta. O outro deputado conquistado pelo PSD foi roubado ao Bloco de Esquerda. Roubo idêntico ocorreu em Braga - PSD ganhou dois lugares ao PS e outro ao BE. Já em Lisboa, o PSD elegeu 18 deputados, contra os 14 do PS e os sete do CDS.
 
Antitroika chumbado O que fica evidente dos resultados de ontem é o chumbo dos portugueses à retórica anti-FMI da esquerda mais à esquerda. Se a CDU obteve um resultado em linha com as suas performances passadas, Francisco Louçã e a retórica inflamada anti-ajuda externa e pró-renegociação imediata da dívida foi dizimada pelos portugueses: Os 5,19% de ontem atiram o Bloco para níveis anteriores a 2005.
 
Já as votações asseguradas pelo PSD e pelo CDS apontam para o sentido contrário: foi dado um mandato claro para cumprir o programa da troika e a maioria de direita não terá desculpas para falhar o mesmo, isto apesar do apertado calendário exigido pelo Memorando.

Abstenção e revolta recordes As eleições de ontem ficam também marcadas por níveis recorde de abstenção - 41,1% - e de protesto. Foram registados 148 mil votos (2,67%) em branco e mais 75,2 mil votos (1,36%) nulos, contando-se assim mais de 223 mil portugueses que se dirigiram às mesas de voto para não escolher nenhum partido. Se a estes juntarmos os 4,42% de eleitores (ver texto ao lado) que votaram nos partidos sem representação no parlamento, contam-se 8,45% de votos que fugiram aos cinco partidos com assento parlamentar, ou seja, mais do que o total de eleitores que escolheram a CDU, por exemplo, o equivalente a mais de 16 deputados na Assembleia da República.
 
Filipe Paiva Cardosoaqui