quinta-feira, 9 de junho de 2011

MUDANÇA

A noite do dia 5 ficou marcada por dois factos: a eleição de Passos Coelho, sem manhas e sem truques mágicos, e a desejada despedida de Sócrates.

Se a vitória do PSD significou, de forma clara e inequívoca, o desejo de mudança nos trilhos da política e no modo de fazê-la, com seriedade e com os pés na realidade, formando com o CDS uma maioria absoluta no Parlamento, o adeus de Sócrates, que assumiu a derrota, foi, conceda-se, um acto de coragem e dignidade. Ou melhor um remendo de tudo o que fez de mal e foi muito.

Com a derrota de JS e de todo o seu aparelho, foi uma derrota também de toda a comandita & Companhia, fica aberto caminho para um PS mais dialogante e realista.

O país precisava de um projecto de mudança e o eleitorado percebeu que o PSD era o caminho, que não será fácil. Pelo contrário, irão erguer-se dos armários muitos mais esqueletos do que os previstos. A herança é demasiado pesada para o novo governo e tremendamente doloroso para o país. A todos nós cumpre-nos acreditar no futuro e arregaçar as mangas, mais do que cantar vitórias e hossanas ou chorar derrotas, e desejar aos governantes, que vêm aí, que lhes corram bem as tarefas que têm pela frente. O país, no estado miserável a que chegou, nunca precisou tanto de diálogo, compromissos e entendimentos entre partidos, a fim da dar início a um novo ciclo. Todavia, às dificuldades que já temos, vai juntar-se a luta de massas, anunciada por Jerónimo, ou as greves que Carvalho da Silva já traz na manga, indicadores perturbantes numa noite com janelas abertas à esperança, quando é precisa que o novo governo não falhe nenhuma meta, imposta pelos nossos tutores. Não há tempo sequer para olhar para trás “a fazer contas com o passado”, lembrou Passos Coelho; “não temos margem de manobra para falhar”, frisou Paulo Portas.

É preciso que o povo entenda que vai ser tarefa difícil para todos, mas que, no fim, valerá a pena. A rosa deixou imensos espinhos… Só temo é que os espinhos continuem a ser mais para uns do que para outros e os maus exemplos continuem a vir de cima, inclusivamente da Presidência da República cujas despesas representam um balúrdio.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 8 de Junho de 2011