segunda-feira, 13 de junho de 2011

HOMENS MISERÁVEIS

Lendo este jornal todos os dias, com as lunetas que observam a violência, não pode deixar de se ficar surpreendido com a sequência de casos que, dia após dia, vão marcando um quotidiano carregado de brutalidade escondida que o ruído do folclore político, da coscuvilhice nacional, logo apaga da memória.

Mas ao ler as notícias sobre a violência doméstica não posso deixar de admitir com convicção absoluta de que elas não passam da ponta de um iceberg. A brutalidade invisível, escondida no segredo das paredes familiares, não chega aos jornais. Apenas aquela que meteu polícias e prisões. Mesmo assim, são sucessivas e preocupantes. A última relatava um tipo que sequestrou a companheira e a manteve em cárcere privado durante quase uma semana. Vá lá, não a matou. Não se apropriou da sua vida, mas julgou-se com o direito de ser seu proprietário. Prendeu-a.

Os casos sucedem-se. Porém, aqueles que as autoridades não conhecem, imersos da cifra negra da vergonha, do silêncio, são seguramente um estendal de mulheres maltratadas psicológica e fisicamente, de filhos maltratados, atemorizados, dependentes do animal de serviço que se julga com o direito de dispor da vida dos outros durante anos, décadas, até ao sacrifício final das suas vítimas.

É certo que o País, as polícias, os tribunais, muitos sectores da sociedade, nomeadamente a comunicação social, deu passos gigantes neste combate terrível pela igualdade de direitos, de confrontamento com os homens-narcisos para quem a defesa da sua auto-estima conduz à destruição psicológica e física das suas próprias famílias.

É certo que cada vez esse tipo de bestas assassinas, umas vezes de vida, outras vezes de tranquilidade de mulheres e filhos, em nome do seu umbigo pastoral e do medo, sofisticam processos de violência, abstendo-se de emergir no noticiário dos jornais. Mas estão aí. Machos miseráveis sem respeito nem pelas suas crias nem pela comunidade iludida que os aceita como cidadãos normais. E não são.

Julgo, pois, que cada denúncia pública de cada acto de violência doméstica, seja contra mulheres, crianças, idosos, transformado em notícia de jornal, seja violência física, seja psicológica, é mais um passo neste combate maior pela defesa de direitos, de liberdades, de igualdade que tantas vítimas tem produzido. Por mais que se escondam na subtileza da violência, este tipo de subgénero humano não tem direito ao silêncio com que destroem as vidas dos que estão à sua volta. Notícias. Mais notícias. Esta canalha teme notícias. Uma boa arma contra a violência doméstica.

Francisco Moita Flores, aqui