Não se trata de uma tese, tampouco de um manifesto, mas antes um libelo sarcástico em relação à ditadura da economia, prenhe de dogmas, não obstante pretender ser uma ciência. Diz António Baños Boncompain: "Uma vez que se trata de um conhecimento vagamente sistemático e profundamente esotérico, que umas vezes acerta e outras não, e que encontra uma explicação plausível para qualquer resultado que se produza, não é assim tão grande a diferença entre um economista e um astrólogo.
De facto, a economia podia ascender à categoria de 'ciência' se ficasse limitada ao segmento da ciência forense. Porque elucida muitas vezes de que morreu o indivíduo, mas poucas vezes acerta no que é necessário para salvá-lo". E conclui: a economia "é, tecnicamente, uma lenga lenga", cujo grande problema "é manter, mau grado erros terríveis, uma reputação de credibilidade imperturbável".
Este é o tom geral do opúsculo intitulado "A economia não existe", embora, como sublinha o autor, os seus efeitos sejam bem reais, principalmente sobre os mais pobres, nas crises que ciclicamente gera para potenciar lucros aos mesmos de sempre. Ora, a economia é uma narrativa de teor mitológico, que tem os seus oráculo – os quais, como o de Delfos, jamais se comprometem nas previsões, antes se comprazem com diagnósticos inúteis – e os sacerdotes, os economistas, que se exprimem por uma linguagem própria, exclusiva, cujo fito será tornar-se incompreensível ao comum dos mortais e, assim, legitimar a deferência perante os que dominam tal código. Estranho e, quase sempre, inconsequente, porque desmentido pela realidade. E não faltam exemplos, de que Boncompain se encarrega de fornecer ao longo dos capítulos, breves mas incisivos, que compõem esta obra iconoclasta.
(Elmano Madaíl)
A ECONOMIA NÃO EXISTE
António Baños Boncompain
Guerra & Paz
Retirada daqui