terça-feira, 3 de maio de 2011

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

Estamos a discutir a salvação do País ou a salvação de alguns lugares de topo no Governo?

Tornou-se quase obrigatória a referência ao necessário governo de "unidade nacional", como forma de ajudar a salvar o País das grandes dificuldades que manifesta.

Presidente da República, ex-Presidentes, industriais, governantes, comentadores, há uma quase unanimidade nesse diagnóstico e nessa solução.

Infelizmente (para mim) não consigo participar nesse distinto grupo de personalidades. No espaço de um mês, o País precisa de um acordo com a TROIKA; o qual deve ser subscrito por todos os partidos do arco constitucional. A margem de manobra para a discordância é mínima ou nula, pelo que, a assinatura de todos eles é obrigatória e sem recurso. Não fujo a isso.

No espaço de meses, se existirem medidas determinadas pela TROIKA que signifiquem alterações constitucionais ou legais, sou da mesma opinião.

A convergência é óbvia e natural, pois, se não existisse, e mesmo que nos custe muito, a alternativa seria a rotura de pagamentos e a falta de dinheiro. Aqui estou de acordo com a assinatura conjunta. Todavia, a urgência e a unidade de votos requeridos para o "pacto de salvação" do País não se equivalem às necessidades de direcção e gestão de Portugal a partir das próximas eleições. Se há coisas que unem os partidos do "arco constitucional", nomeadamente o programa da TROIKA que funciona como um "comando político-legislativo" para todos eles, são inúmeras, as diferenças na execução, e na forma de se atingirem aqueles objectivos.

Porque é que todos temos de estar unidos para além do essencial? Porque é que, caso o PS ganhe as eleições com maioria absoluta, tenha de ter como parceiro de Governo o PSD? E se for o PSD a ganhar porque é que José Sócrates Pinto de Sousa há-de estar presente? Estamos a discutir a salvação do País ou a salvação de alguns lugares de topo no Governo e na Administração Pública para alguns? Porque é que, para além do programa da TROIKA, hão-de todos os partidos democráticos estar de acordo em tudo, e na sua execução em conformidade? Porque é que os obrigamos à unicidade doutrinária e política?

Conversarem civilizadamente, dialogarem com realismo, praticarem regras de convivência decente e adequadas é algo que se deseja e incentiva. Obrigá-los, para além disso, e para além do que pensam e querem para o País, o estarem juntos na futura Governação, é apenas criar-lhe dificuldades adicionais, para além daquelas que o Programa da TROIKA já comporta! É complicar ainda mais, o que já por si não é nada fácil.

A César o que é de César!

Ângelo Correiaaqui