sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

WIKI-CHILIQUES

Raramente se revela de forma tão evidente o equilíbrio precário em que as democracias ocidentais vivem.

As reacções dos estados desmascarados pelas iniciativas da WikiLeaks demonstram quão podres são as elites que exercem o poder em nosso nome. O caso, de tão simples, assusta.

1. Têm sido divulgadas pela WikiLeaks provas de actividades de duvidosa ética ou mesmo criminosas, conhecidas e nalguns casos promovidas por estados supostamente "decentes".

2. Os meios usados pelas fontes para passar estas informações foram irregulares mas, atendendo à sua natureza e ao claríssimo interesse público de muitas delas, condenável seria não agir.

3. A WikiLeaks, pelo seu líder Julian Assange, seguirá uma agenda anti-americana. Terá sido irresponsável por não filtrar os dados que colocassem pessoas em perigo ou fossem irrelevantes para os altos valores que afirma defender. É possível. Tudo isto justifica então procedimentos mais elaborados como os que propõe a nova organização Openleaks: entregar o que recebe das fontes anónimas a meios de Comunicação Social por elas escolhidos para tratamento jornalístico, em vez de divulgar directamente.

4. Países que julgávamos terem uma estrutura judicial madura, como a Suécia e a Grã-Bretanha, são afinal terrivelmente permeáveis a pressões políticas. É inaceitável a perseguição feita a Julian Assange sob pretexto de uma acusação banal de duas senhoras suecas arrependidas de partilhar lençóis com quem conheciam há apenas poucas horas.

5. Se tudo isto não originar um terramoto com origem na sociedade civil, bem mereceremos a triste situação dos países que até agora classificávamos como pouco respeitadores dos direitos humanos, até fundamentalistas. Contudo, não nos sentiremos privados da liberdade, pois afinal nunca a teremos verdadeiramente desejado.

Tiago Azevedo Fernandes, aqui