domingo, 26 de dezembro de 2010

O DESCRÉDITO DA CLASSE POLÍTICA

Perante isto, como se poderá explica a pobreza de que Portugal padece, como se de um anátema se tratasse?

De forma geral, a classe política não beneficia de uma imagem muito favorável junto do chamado povo da Nação.

Ouvindo as conversas de café, o "bate-boca" dos encontros fortuitos, são vulgares as expressões: "eles só se preocupam com a vida deles"; "eles querem é "tacho"; "eles prometem mas nunca cumprem...". No caso, "eles" são os políticos. Há até quem pense que a actuação da classe política pouco mudou com a revolução de Abril, mantendo-se os mesmos vícios, a mesma filosofia... mas de sinal contrário.

Hoje, em vez de não darem cavaco dos seus actos, como faziam os do regime anterior, demonstram uma aparente abertura à opinião pública, cultivando a habilidade de "falar sem dizer nada", verdadeiros especialistas na arte de contar histórias para jornalista ouvir.

Mas... ensina a sabedoria popular que "Prometer não é dar mas aos tolos enganar". E o povo dá sinais evidentes que já começa a estar farto de ser tido pelo tolo a quem tudo pode ser prometido mas a quem nada é dado. Ao invés, devagar, devagarinho até tem sido possível i-lo a ser espoliado dos parcos recursos que lhe permitiam viver com um mínimo de dignidade. Daí, talvez, a tendência para acreditar cada vez menos nas promessas que ouve nos períodos eleitorais; daí a propensão para fazer ouvidos moucos às palavras optimistas que os políticos espalham a rodos sempre que têm a imprensa por perto.

Talvez um pouco tarde, mas ainda a tempo, o povo parece ter aprendido finalmente o significado da palavra... "demagogia". E, queiramos ou não, a verdade é que a maior parte daquilo que os políticos despejam em catadupas, não passa disso mesmo, de demagogia.

Afinal, quantas promessas têm sido feitas... sem que haja a mínima intenção de as cumprir?

Isso acontece normalmente quando em foco estão questões ligadas à Saúde, à Segurança Social, à Educação, à Justiça, ao nivelamento do padrão de vida pelo modelo europeu, à segurança dos cidadãos nas ruas e até em suas casas, ao Código Laboral... porque a verdade é que o que dá votos não são essas "banalidades", coisas que não enchem o olho. O que dá votos é a obra feita que dá nas vistas, como as pontes, as auto-estradas, as Expo 98, os Euro 2004, os TGV, as novas pontes e aeroportos e assim por diante!

A "obra" é feita, os políticos põem-se em bicos dos pés com discursos inflamados... e o povo fica na mesma: com reformas de miséria, com a Saúde de rastos, com uma Educação manca, com uma Cultura de trazer por casa, com a Justiça por reformar e um nível de vida a cair aos pedaços, próprio do 3.º mundo. Daí, talvez, a desconfiança que os cidadãos manifestam em relação à classe política, desconfiança que se vai tornando cada vez mais óbvia, com a crescente abstenção na hora de acorrer às urnas de voto, de eleição para eleição.

Não será isso uma clara manifestação do cepticismo que os cidadãos vêm sentindo em relação aos políticos que os governam? Se isso não é sinal evidente de desencanto e descrença, então será o quê?

É fácil perceber que mudar a estrutura social de um país não é tarefa fácil. Não se transformam de "pé para a mão" muitos anos de baixa qualidade de vida numa sociedade económica e socialmente equilibrada. Com boa vontade podemos até acreditar que alguns dos políticos que têm passado pelas cadeiras do poder se tenham esforçado para dar aos portugueses um nível de vida à altura do resto da Europa. Só que nesses casos o insucesso do eventual empenho deixa à mostra uma notória falta de talento para levar a bom termo as suas boas intenções. Na verdade, algum motivo leva a que 35 anos depois de Abril continuemos a ser o país mais pobre do velho continente.

Cogitando sobre esta matéria, apenas conseguimos chegar a uma conclusão: os portugueses não são um povo igual aos outros povos. Contudo, se esta é uma ilação negativista, se tal não for a razão que leva a não conseguimos sair da "cepa torta", teremos de aceitar uma mais dura realidade: é real e incontestável a inaptidão dos senhores que têm passado pelas cadeiras do poder para a consecução do objectivo que se propõem, a governação de Portugal.

Estas são conclusões que parecem mostrar um certo derrotismo. Mas por favor expliquem-nos em que é que Portugal como Nação é inferior às outras nações. O que é que essas nações têm a mais do que a nossa? Pensemos na Holanda, com os seus 41.526 Km2; na Dinamarca, com 43.080 Km2; na Bélgica, com 30.518 Km2; na Suiça, com 39.770 Km2; no Luxemburgo, com 2586 Km2; na República da Irlanda, com 68.894,6 Km2; e perguntemo-nos a que se deve a prosperidade destas nações, comparando-as aos 92.391 Km2 de Portugal, com um lado banhado pelo Atlântico e outro funcionando como porta da Europa, com um Sol radioso e uma luminosidade exaltada pelos que nos visitam. Não esquecendo, para além disso, o facto importante de que alguns dos países aqui referidos como comparação, terem sido ocupados e esventrados pelas hordas nazis dum tal de Adolfo, ou quase todas não possuírem condições naturais nem de longe comparáveis às de Portugal.

Luís Farinha, aqui